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O dólar subiu, e daí?

Educando Seu Bolso
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O dólar subiu, e daí?
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O cidadão brasileiro cansa de ouvir nos noticiários que o dólar está em alta. Recentemente a cotação passou de R$4,00, e pode continuar subindo. Mas o que isso tem a ver com o cotidiano de quem recebe o salário e faz transações em real?

Na minha conversa com o Pedro Vieira, da Rádio Inconfidência, nós vimos que tem muito a ver! Neste post vamos explicar o que tem causado esse aumento da taxa do dólar e quais os impactos disso para o dia-a-dia dos brasileiros e para o país. 

A alta do dólar e a forma como isso afeta a vida tanto de quem vai viajar, quanto de quem não vai, também foi tema da reportagem do programa Bom Dia Minas, que contou com a nossa participação para falar um pouco mais sobre o assunto.

Porque subiu?

Existe uma série de tensões internacionais que, somadas ao aumento dos juros em países desenvolvidos, como os Estados Unidos e a Inglaterra, fazem com que o dólar se fortaleça. O que gera uma desvalorização das moedas dos países emergentes.

Se por um lado os juros em países desenvolvidos aumentam, por outro os países em desenvolvimento enfrentam problemas. Casos como o do pastor americano preso na Turquia, a situação da Venezuela e até mesmo da Argentina, além do embate entre o presidente Donald Trump e países como Rússia e China, são alguns exemplos.

Todo esse nervosismo faz com que o capital fuja para uma zona de segurança. O mercado financeiro é avesso à  incertezas. Logo, em situações como essa, todo mundo começa movimentando dinheiro. A tendência é ir em direção ao dólar, que ainda é a moeda de segurança.

Como as eleições no Brasil afetam esse cenário?

Um segundo fator, que contribui para a construção desse cenário, são as especificidades de cada país. No Brasil existem algumas incertezas, especialmente em relação ao quadro político para 2019.

Hoje o governo não consegue gastar de maneira condizente ao que arrecada e o rombo no orçamento aumenta cada vez mais. Além disso, o país não está se recuperando da forma esperada. A expectativa de crescimento de 3%, que vigorava no começo do ano, já caiu para próximo de 1%. Portanto, está claro que, seja qual for o candidato vencedor da eleição presidencial, será preciso fazer reformas.

Porém, a forma com que essas reformas serão conduzidas depende do presidente eleito. Isso impactará diretamente as relações financeiras e cambiais entre o Brasil e os demais países. Enquanto esses rumos não forem decididos, a economia brasileira continuará morna e nervosa, já que o mercado financeiro não gosta de instabilidade.

A desvalorização do real em relação ao dólar

Um ranking divulgado pelo portal G1 mostrou como as moedas se desvalorizaram em relação ao dólar. O real é a sétima moeda que acumula maior desvalorização no ano. Em primeiro lugar vem a Venezuela, seguida de algumas economias da África, como Sudão e Angola e na sequência a Turquia e Argentina.

O peso argentino já teve quase 40% desvalorização em relação ao dólar. O cotação do real (USD x BRL), por sua vez, teve aproximadamente 20% de desvalorização cambial.  Ou seja, nós estamos seguindo o mesmo caminho que muitas economias emergentes.

O que o seu bolso tem a ver com isso?

Quem vai viajar para fora do país já está atento às cotações do Dólar, do Euro ou da moeda do país para onde vai viajar.

A situação é mais favorável para aqueles que planejaram seu roteiro dentro da zona do Mercosul. Na Argentina, por exemplo, a desvalorização da moeda em relação ao dólar é ainda maior do que no Brasil. Isso quer dizer que você vai conseguir comprar mais produtos e serviços lá, já que o real está valendo mais do que o peso.

Por outro lado, quem pretende ir para os Estados Unidos ou para a Europa precisa refletir um pouco mais. Se você está bem planejado e já possui essa reserva em moeda estrangeira ou, se você tem recursos suficientes em reais para honrar sua viagem, mesmo se o dólar continuar subindo, então você pode manter a sua viagem sem maiores problemas.

Agora, se você ainda não tem uma reserva bem constituída, talvez seja o caso de redirecionar a viagem para dentro do Brasil ou para outros países que também estão tendo as suas moedas desvalorizadas, como o peso argentino por exemplo. Desta maneira você poderá manter a viagem dentro do orçamento.

O uso do cartão de crédito no exterior

Uma dúvida muito comum de quem está planejando viajar é se vale ou não a pena usar o cartão de crédito internacional. Independente da moeda que vigora no país de destino, todas as transações financeiras acabam passando pelo denominador comum: o dólar.

Assim, quando a fatura do cartão de crédito internacional chegar é provável que ela esteja um pouco mais cara, devido à essa alta do dólar. Uma maneira de evitar essas variações no preço é levar o dinheiro todo em espécie ou um cartão internacional pré-pago.

Outra opção é abrir uma conta em moeda estrangeira. Não há nada de ilegal nisto, desde que se cumpra algumas necessidades burocráticas. Além dos bancos tradicionais, hoje existem algumas fintechs que possibilitam ter reservas em outras moedas, PayPal e Transferwise são exemplos de aplicativos de pagamento e que permitem carregar recursos em moeda estrangeira na sua conta.

A alta do dólar não afeta só quem vai viajar

As variações cambiais impactam o preço de vários insumos produtivos. Isso gera um aumento no preço do produto final, que vai para a prateleira do supermercado, por exemplo.

Um insumo que é muito importado pelo Brasil é a farinha de trigo. Essa é uma commodity de grande peso nas importações brasileiras. Explicando um pouco do financês, commodity é um termo em inglês usado para representar bens geralmente primários (minério, soja, trigo…) que são comercializados internacionalmente e que tem preços denominados em dólar.

Como os preços das commodities são em dólar, quando a cotação aumenta, sobe o preço do insumo e, consequentemente, sobe também o custo de produção. Por exemplo, se sobe o preço do trigo, esse aumento será repassado para o produto final que consumimos: o pão. A mesma coisa acontece com o petróleo. Mesmo que a Petrobras produza a maioria do petróleo nacional, ela sofre influência do preço internacional. E isso se manifesta na bomba do posto de gasolina.

Tem algum tipo de aplicação financeira que está rendendo mais com a alta do dólar?

Tem! Para quem quer diversificar mais seus investimentos, existem fundos cambiais ou multimercados.

Está cada vez mais fácil e mais comum encontrar fundos multimercados, que aplicam em vários mercados, inclusive internacionais. Eles investem uma parcela dos recursos em ações ou títulos no mercado internacional. Alguns exemplos são ações da Amazon, da Google, da Apple ou até mesmo em renda fixa em moedas estrangeiras, já que os juros lá fora estão subindo.

Então para aqueles que acreditam que o dólar vai continuar subindo e querem fazer os investimentos renderem um pouquinho mais, os fundos cambiais ou fundos multimercados são uma boa opção.

dólar

Mandar dinheiro para fora do Brasil é bom para a economia brasileira?

As remessas de dinheiro do Brasil para outros países no primeiro semestre deste ano ultrapassaram um bilhão de dólares. Esse é o maior montante para o período da série histórica do Banco Central, que começou o levantamento em 1995.

Mandar dinheiro para fora do Brasil é muito comum. Seja para ajudar parentes que moram fora, um filho fazendo intercâmbio, ou comprar um apartamento em Miami ou Lisboa.

Mas para a economia brasileira isso não é um bom negócio. Nós dependemos de poupança externa. O Brasil tem uma taxa de poupança muito baixa e a gente sofre na pele a falta de investimento no país. A falta de infraestrutura, metrôs, estradas dignas, hospitais e boas escolas são só algumas carências consequentes dessa falta de recursos.

O Brasil precisa de dinheiro para fazer investimentos que permitam aumentar a nossa capacidade de crescimento. Então, quando o brasileiro manda dinheiro para o exterior, ele está pegando os poucos recursos que nós temos e mandando para investir em países mais ricos.

Esse dado é preocupante porque mostra que não estamos conseguindo reter reservas. Além disso, nós também estamos exportando talentos, recursos humanos, que estudaram, se desenvolveram e estão  deixando o país em desalento com os nossos prognósticos futuros.

Como mandar dinheiro para o exterior?

Como o brasileiro gosta de fazer sempre o que é mais conveniente, o jeito mais fácil é procurar o seu banco de relacionamento. A maioria dos bancos consegue intermediar essa transação.

Os bancos têm um maneira de se encontrar, mesmo que o banco estrangeiro não tenha atuação no Brasil ou vice-versa. Assim, o dinheiro sai da sua conta em reais e chega na conta de destino em dólares, euros ou na respectiva moeda do país. Esse movimento leva cerca de um ou dois dias.

Quais são os custos de se enviar dinheiro para fora?

Para fazer uma remessa de recursos ao exterior, não basta olhar a taxa de câmbio. A transação pode envolver outros custos e tarifas. Por isto, é muito importante calcular o Valor Efetivo Total, que inclui normalmente uma taxa de conversão e uma tarifa de transferência internacional, além do IOF. Não se esqueça pedir ao banco ou a corretora o Valor Efetivo Total (VET) que você está pagando pela transação.

Existe um ranking desse Valor Efetivo Total no site do Banco Central. Esse ranking é apresentado com um mês de defasagem, ou seja, não é quanto custa 1000 dólares hoje, mas ajuda.

Então, se estamos em Agosto, temos o ranking do Valor Efetivo Total do mês de Julho. Os bancos são ordenados do mais barato para o mais caro. É possível perceber que os grandes bancos, aqueles que detém o maior número de clientes no Brasil, ocupam as últimas posições da lista.

Então, se você quer mandar uma soma maior de dinheiro para o exterior vale a pena pesquisar. Uma diferença de R$0,10, R$0,15 ou R$0,20 numa transferência com valores altos pode representar uma economia significativa.

Há limite de valor para mandar para fora?

Não há limite de valor, mas pode existir uma burocracia. Devido à necessidade de evitar lavagem de dinheiro, é comum que para transferência de valores muito altos, o gerente faça perguntas como: de onde vem o dinheiro e para onde vai. Até que ele se convença de que a origem dos recursos é lícita.

Conclusão

O aumento do preço do dólar tem um impacto direto sobre o bem estar da população brasileira. Diretamente sobre compras, viagens ao exterior e investimentos. Além de indiretamente na nossa própria inflação e taxas de juros.

Ficar atento às variações cambiais não é tarefa só dos bancos ou corretoras de câmbio. É fundamental para entendermos as alterações no preço dos produtos que consumimos e nos organizarmos financeiramente. Algumas dicas que podemos deixar para você leitor são:

  1. Comparar diferentes cotações de dólar ou euro antes de comprar moeda em espécie ou carregar o cartão pré-pago,
  2. Entender como gastos em cartão de crédito no exterior podem impactar seu orçamento e evitar a o susto na fatura,
  3. Escolher bem sua forma de pagamento: moeda em espécie, cartão pré-pago e cartão de débito ou crédito,
  4. Saber que os bancos são livres para usar as taxas de câmbio que bem quiserem. Uns usam o dólar comercial, outros o dólar turismo e por aí vai. Resultado: Uns são bem mais careiros do que outros,
  5. Checar sempre o VET da transação e não só a cotação do dólar, euro ou de qualquer moeda, e finalmente,
  6. Usufruir da sua liberdade como consumidor para se utilizar de fintechs ou de corretoras de câmbio e não só do seu banco.

Ouça o podcast para saber mais e qualquer dúvida estamos à disposição!

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