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Millennials: Educação Financeira e Armadilhas

Educando Seu Bolso
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Millennials: Educação Financeira e Armadilhas
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A Economia Clássica sempre teve como pressuposto que os seres humanos são 100% racionais na hora de tomar decisões. No entanto, a prática mostra que não é bem assim. Ninguém é racional o tempo todo. Nesse sentido, surge uma nova linha de pensamento econômico: a Economia comportamental, que tem por objetivo romper com o pressuposto inicial, se aproximando mais da realidade.  O economista Richard Thaler, vencedor do prêmio Nobel de economia em 2017, tem uma pesquisa que vai justamente nesse sentido. Ele afirma que os jovens, a geração millennials, são mais propensos a cair em armadilhas financeiras.

Na minha conversa com o Pedro Vieira, da Rádio Inconfidência, nós discutimos sobre as irracionalidades do comportamento humano. Falamos também sobre quais são essas armadilhas, como evitá-las e porque os millennials são ainda mais suscetíveis do que eu, por exemplo, que sou da geração X.

Abordamos ainda as carências da Educação Financeira ensinada nas escolas e a importância de formar (na escola, ou fora dela) cidadãos entendidos desse tema. Se você está se perguntando: O que isto tem a ver com millennials? A resposta é que a Educação Financeira é a melhor forma de evitar que a Geração X e a Geração Z caiam nas mesmas armadilhas que hoje afligem a Geração Y.

Dou minha opinião sobre se mesada ajuda ou atrapalha, tratamos os cuidados que os pais devem ter ao implementar uma semanada, falamos sobre a importância da gamificação da educação e sobre o aprendizado na marra, fruto de família grande e escassez. Tudo isto com o pano de fundo das diferenças entre gerações. Ah e com participações de ouvintes enriquecendo a conversa. Ficou bem legal. Escute aí o podcast e dê sua opinião.

Somos seres irracionais, e daí?

Somos! Em se tratando de decisões econômicas, somos irracionais o tempo todo. Até porque, se fôssemos 100% racionais, qual seria o sentido de tanto marketing e propaganda? São áreas que movimentam milhões hoje em dia, usando das emoções para incentivar o consumo.

Nos cursos de Economia os modelos são baseados em racionalidade. Os seres humanos vão agir sempre buscando um ótimo, o caminho mais eficiente financeiramente, com a maximização (aumento) dos lucros e a redução dos custos.

No entanto, não é assim que o ser humano funciona. Ele é enviesado e segue critérios muito mais sentimentais e psicológicos do que econômicos, na hora de tomar uma decisão. É isso que essa nova corrente, chamada Economia Comportamental, e seus expoentes Richard Thaler, Dan Ariely, Daniel Kahneman, entre outros, tentam trazer para dentro dos modelos econômicos.

Esses grandes autores simplesmente reconheceram o que o senso comum já mostrava há muito tempo: ao fazer compras, o ser humano não age financeiramente, e sim de acordo com o acúmulo de experiências e vontades.  Ele pode agir, inclusive, prejudicando as finanças.

Nas várias áreas da economia, desde a macroeconomia, onde se programa a política econômica, até nas pequenas ações do dia a dia, é necessário promover o “bom comportamento”, ou seja, um comportamento mais racional. Nesse sentido, Richard Thaler sugere dar “empurrões” (nudges), incentivos que levem as pessoas a agir de maneira mais planejada, reflexiva e crítica.

Quais são as armadilhas para os millennials?

A impaciência e a propensão a consumir por impulso as são principais ciladas para a geração Y.

Os incentivos ao consumo impulsivo são inúmeros. Estão na televisão, no celular e meios de comunicação em geral, o tempo todo.  As pessoas estão sendo empurradas para consumir mais, mas isso não é uma questão específica do jovem.

Os millennials são mais propensos a cair em armadilhas que lidem com a impaciência. Para essa geração é muito difícil pensar no longo prazo. Planejar uma poupança para quando eles chegarem aos 40 ou 60 anos é uma realidade ainda muito abstrata. Esse tempo está tão longe que dá a sensação de que nunca vai chegar.

Então, se os millennials não conseguem trabalhar com essa dimensão temporal, não tomam decisões com esse horizonte de tempo. Assim, fica difícil, por exemplo, deixar de comprar um tênis novo, porque é preciso colocar R$100,00 do salário numa conta, para criar uma reserva financeira para a aposentadoria. Quase ninguém de vinte anos vai se sentir incentivado a tomar essa decisão. As pessoas dessa geração não se enxergam nessa situação. A maioria sequer fica no dilema entre Nike ou BrasilPrev? Apple ou Prev Caixa?

Quais “empurrões” podem ser dados para melhorar esse comportamento?

Trabalhar com incentivos para diminuir essa impaciência e aumentar a visibilidade que os millennials têm do longo prazo é uma boa política para orientar melhor esse futuro.

Já encontramos ações concretas visando aproximar a Geração Y deste futuro, como, por exemplo, a criação de objetivos financeiros de investimentos separados. Essa prática permite a visualização do percentual de atingimento de meta e dá sensação de progresso – estou mais perto da minha viagem ou da compra do meu carro – a cada novo aporte, ou pela incorporação dos rendimentos.

É preciso desconstruir a mentalidade de “viver como se não houvesse amanhã”. Os pais devem incentivar os filhos a se precaver e pensar no futuro. Estamos vivendo mais e com mais qualidade de vida, por isso temos que ter reservas financeiras bem consolidadas.

Vale a pena dar mesada?

Um pequeno orçamento pode ajudar os millennials a se relacionarem melhor com o dinheiro.

No entanto é preciso ter alguns cuidados. Eu, particularmente, sou contra remunerar as crianças por nota na escola, por exemplo. Estudar não deve ter como fim último uma remuneração. Esta deve ser uma atitude que busca o crescimento pessoal e o desenvolvimento humano, desassociada de uma recompensa material.

Além disso, é necessário ter em mente que o objetivo da mesada é a educação financeira. Não adianta combinar um pagamento mensal se a criança gastar tudo no primeiro dia e os pais continuarem dando dinheiro. Isso cria um comportamento contrário ao que se deseja.

Se existe uma mesada que deve servir para o lanche na escola, a figurinha e a bala e o seu filho gastou tudo na primeira semana, acabou! A criança passará três semanas sem nada e terá que se organizar melhor no mês seguinte.

Então, a mesada como um pequeno orçamento para criança se responsabilizar pelo dinheiro ensina desde cedo que desejos são infinitos, mas recursos são finitos e é preciso administrá-los bem para alcançar os objetivos. Dessa maneira é possível ensinar aos jovens essa dimensão de que é preciso fazer escolhas, porque não se pode ter tudo.

E a semanada?

A semanada segue a mesma lógica da mesada. Ela se aplica bem para crianças mais novas, que muitas vezes têm dificuldade de projetar o mês. Então, ao em vez de dar uma mesada de R$100,00, dá-se uma semanada de R$25,00. A finalidade é a mesma.

A educação financeira nas escolas e as próximas gerações

A forma que se ensina hoje é a muito parecida com a de 30, 40 anos atrás. Infelizmente a didática não avançou, a estrutura escolar não foi modernizada e aconteceram poucas inovações no modelo de ensino. A precariedade da educação financeira é um reflexo disso. Pais da Geração X, e da Geração Z, cuidado!

Aqui no Educando Seu Bolso temos a missão de tentar entrar no ambiente escolar com a pauta da educação financeira. A inclusão desse assunto na base nacional curricular foi um avanço. Mas, infelizmente, na prática isso não tem se traduzido em um acesso dos jovens à boa educação financeira. Ela ainda não vai muito além dos juros simples e compostos, incorporados em algum momento na grade de Matemática, sem deixar claro os porquês e para quês disso. Portanto, este acaba sendo mais um conteúdo esquecido assim que os jovens saem do Ensino Médio.

Muito se fala em tecnologia, novos conceitos pedagógicos. Um exemplo bem famoso é a “gamificação”, para tornar o ambiente de sala de aula um aprendizado mais dinâmico. Isso de dá por meio da incorporação de conceitos usados nos jogos eletrônicos. É uma tentativa de capturar o interesse dos mais jovens que adoram os games de celular, tablet, Nintendo, Xbox, PS4. Acho que esta é a tendência, mas ainda está longe.

No entanto, ainda existe o medo quando se trata de Matemática. Se elas tiram uma nota ruim ou duas já se distanciam da matéria, achando que aquilo não é para elas. Mas o fato é: não dá para fugir da matemática. Em algum momento da vida ela te alcança de volta.

Mas mesmo para os que não dominam, peço que não desistam. Há boas maneiras de gerir suas finanças sem ser o mago da matemática financeira. Estamos aqui para te ajudar!

Filhos também ajudam na educação financeira dos pais

Durante o programa na rádio a ouvinte Silvana relatou: “o meu filho tem 26 anos e lida com dinheiro melhor do que eu”.

Falamos muito sobre pais ajudando filhos a lidar com finanças, mas vale lembrar que a recíproca também é verdadeira. O comentário da Silvana chama a atenção para esse ponto.

Ela com certeza se beneficia da aptidão que o filho tem no trato com as fianças para ficar a par de novidades. Assim ela pode tomar conhecimento da existência das fintechs, que surgiram para se adequar ao perfil dos millennials e que são alternativas fora dos grandes bancos. Ela provavelmente sabe também, através do filho, que se quiser fazer o dinheiro render um pouco mais de forma segura existem outras opções além da Poupança.

A dica que fica para os filhos é: olhe para as finanças dos pais e se ofereça como uma fonte de renovação na maneira que eles tratam o dinheiro ou a gestão dos seus recursos.

Parabéns para Silvana e para o filho pela parceria e pelo cuidado com o orçamento.

Educação financeira na marra também vale?

Na sequência do programa a Rosângela comentou: “sou de família grande e de uma época que nunca tínhamos mesada. Mas conseguimos nos educar financeiramente, não todos os irmãos, mas a maioria sim. A educação veio mais na marra”.

Estudos demonstram que o aprendizado na prática, sem mesada, funciona para muita gente. Esse ambiente de escassez é um ótimo professor para ensinar a controlar bem o dinheiro. É claro que existem exceções individuais, que se tornam mais gastadores, mas grande maioria incorpora isso no futuro, por ter vivido essa situação durante um bom tempo da vida.

Parabéns também à Rosângela e obrigado pela participação!

As perguntas da Mônica e da Isabel

Ao final do da minha conversa com o Pedro a Mônica perguntou: “ainda é um bom negócio investir em títulos do Tesouro Nacional?”

Sim! Existem diversas modalidades e níveis de liquidez que ainda são bastante vantajosos. Uma alternativa é procurar uma corretora de valores, como XP, Easynvest ou outras que constam do nosso simulador de investimentos. Elas costumam ter taxas bem baixas para investir no Tesouro Direto. Aqui no blog, nós fizemos um post que fala um pouco mais sobre isso e pode ser acessado pelo link: Tesouro Nacional: vender ou esperar o vencimento?

Por fim, a Isabel relatou que tinha um título de capitalização a menos de um ano. Porém, atrasou três parcelas. Quando foi regularizar, o banco informou que o título estava cancelado e que ela deveria aguardar o prazo de vencimento. Ela quer saber se ela perdeu tudo nesse título de capitalização.

Provavelmente não. Esses são contratos que existem entre clientes, como a Isabel, e a seguradora que o gerente do banco representa. Esses contratos têm especificidades. Cada um deles pode ter um tipo de regra.

Tomando por base o funcionamento normal de um título de capitalização, ela provavelmente terá direito a receber alguma quantia no final do prazo, mesmo sem ter pago tudo.

A má notícia é que esse valor não será muito alto. Mesmo quando se cumpre tudo direitinho num contrato de um título de capitalização, ainda é pior do que investir na pior aplicação financeira possível. Se quiser saber mais sobre o assunto, já o tratamos em Títulos de Capitalização: promessa que pode esconder armadilhas. De toda maneira, o Pé Quente do Bradesco será o tema do nosso próximo podcast. Então, se Título de Capitalização é um assunto que te interessa, pode esperar que vem mais por aí.

Concordo, mas e agora? Qual deve ser meu próximo passo?

O pensamento econômico vem se modernizando e se aproximando cada vez mais da realidade, assim como as gerações também se atualizam. Os millennials demandaram uma reformulação dos bancos tradicionais e abriram mercado para o surgimento de fintechs, mais práticas e com menos burocracia.

Aja agora, não deixe para amanhã, se aproveite das comodidades das fintechs para não correr mais o risco de cair nas armadilhas às quais os millennials são mais propensos. Vamos a algumas dicas práticas:

  • Assine o nosso podcast para se manter atualizado sobre as novidades na gestão do seu dinheiro;
  • Use o nosso simulador de aposentadoria para se aproximar dos números que te afligirão no futuro. Isso deverá te sensibilizar a separar uma pequena parte do orçamento para esse tempo, que hoje você enxerga como tão longínquo, mas que chegará mais cedo do que você imagina;
  • Conheça a Santíssima Trindade da Educação Financeira e crie um painel de navegação das suas finanças, estabelecendo metas e controlando gastos através de aplicativos como GuiaBolso ou Organizze,
  • Crie alternativas ao seu banco de relacionamento, através das contas digitais. Use o nosso simulador para escolher entre Inter, Neon, Nubank, Agibank, Original, Next, etc…;
  • Se utilize de um serviço de investimentos que te permitam programar e automatizar os suas aplicações usando, por exemplo, robôs de investimento como Monetus, Magnetis, Warren, Verios, etc. Abrir uma conta em alguma corretora de investimentos como a XP ou  a Easynvest também é uma boa alternativa;
  • Nunca contrate qualquer produto ou serviço financeiro sem antes comparar preços e fornecedores e para isto, você sabe que não há melhores ferramentas do que as nossas não é mesmo?

Ouça o podcast e deixe também seu relato ou dúvida aqui para a gente, assim como a Silvana, a Rosângela, a Mônica e a Isabel.

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