A saúde pública brasileira, na teoria, é considerada uma das melhores do mundo. Mas, na prática, ela tem muitos problemas. Isso faz com que as pessoas busquem refúgio no sistema privado: mais de 47 milhões de brasileiros têm planos privados, ou seja, quase ¼ da população. Seja quando falamos sobre a ANS (Agência Nacional de Saúde), que regula o sistema de planos privados, ou quando falamos sobre o SUS (Sistema Único de Saúde), o fato é que a saúde no Brasil é um assunto sempre muito comentado.
No atual momento em que vivemos, da crise causada pelo coronavírus, muitas dúvidas surgem nas pessoas quanto aos planos de saúde. Será que é o melhor momento para quem não tem um plano buscar um? Ou então, será que, para quem tem o plano e vem enfrentando dificuldades para pagá-lo, é um bom momento para deixá-lo de lado? A ANS tomou medidas para facilitar o pagamento dos planos de saúde?
Entrevistamos Luiz Quadros, executivo com mais de 30 anos de experiência em planos de saúde, para sanar essas e outras dúvidas no nosso podcast. Você pode, portanto, ter acesso ao nosso conteúdo tanto em forma de texto quanto de áudio. Esperamos que ele seja útil para você!
Busca por planos de saúde segundo a ANS
A busca pelos planos de saúde não aumentou, e sim diminuiu em relação aos meses anteriores à crise do Covid 19. Podemos ver que, no momento, a população tem precisado se dedicar a outros tipos de preocupações. Ou seja, as pessoas que não costumavam investir num plano de saúde antes da crise não começarão a fazê-lo no meio dela. Além disso, quem deseja investir num plano de saúde para se prevenir dos riscos do coronavírus não terá sucesso. Afinal, existe o período de carência.
Período de carência determinada pela ANS
A ANS (Agência Nacional de Saúde) determinou algumas normas para os planos de saúde em decorrência do coronavírus, mas o período de carência não foi eliminado. Esse período é aquele que você deve aguardar para ser atendido pelo plano de saúde depois de sua contratação. Para situações de emergência o período de carência é de 24 horas. Ou seja, se você contratar um plano de saúde hoje, poderá ser atendido em um pronto socorro da rede particular amanhã, caso precise. Entretanto, a ANS determina que, para internações, o período de carência pode ser de até 180 dias, no máximo. Esse período, porém, pode variar de acordo com a operadora do plano.
Trazendo para o contexto do coronavírus: se você contratar um plano hoje, mas sentir alguns sintomas amanhã e optar, assim, por procurar um hospital particular, você será atendido. Entretanto, se seu caso for confirmado e exigir, por exemplo, uma internação, você será encaminhado para um hospital da rede pública. Seu plano de saúde passará a cobrir esse tipo de situação daqui a 6 meses.
Pagamentos dos planos de saúde
O aumento na inadimplência em decorrência da crise do coronavírus ainda não foi sentido severamente pelas empresas de plano de saúde. Uma das razões para isto é que, para muitas pessoas que têm plano de saúde, ele é realmente uma prioridade. Sendo assim, em caso de aperto no orçamento, são cortados gastos em outras áreas antes de se comprometer o plano de saúde.
Além disso, a quarentena e seus efeitos no Brasil começaram, de fato, há pouco mais de um mês. No caso dos planos de saúde, atrasos de 1 mês no pagamento ainda são aceitáveis. Contratos são cancelados em situações normais apenas quando o cliente completa, num período de 1 ano, pelo menos 60 dias de atraso (contínuos ou não). Sendo assim, ainda não é possível chegar a uma conclusão quanto à inadimplência decorrente da crise econômica causada pelo coronavírus.
De qualquer maneira, as operadoras de plano de saúde já vêm promovendo ações em resposta à crise. É provável que, caso ela se estenda, algumas pessoas deixem de pagar a mensalidade dos seus planos. Por isso, muitas operadoras retiraram as multas e juros para casos de atraso no pagamento. Algumas ainda permitiram que quem tem algum atraso possa pagar apenas uma parcela do valor devido. Por isso, se você tem um plano de saúde e está passando por alguma dificuldade financeira, procure a operadora do seu plano. Pode ser que ela esteja oferecendo alguma condição especial para o período de crise.
Se você está inadimplente, esse artigo pode te ajudar a renegociar suas dívidas.
Soluções tecnológicas da ANS para o período de quarentena
Telemedicina
A telemedicina é, basicamente, utilizar os meios de tecnologia e telecomunicação para a realização de consultas médicas. Ou seja, o paciente não precisa se deslocar ao consultório médico em determinadas situações. O médico consegue atendê-lo pelo celular, por uma ligação comum ou de vídeo. Em decorrência do isolamento social que estamos vivendo, a ANS libera e sugere a telemedicina para vários casos. As consultas que podem ser feitas desta forma são as orientativas. Para alguns casos, o método de consulta precisa inevitavelmente ser o tradicional, isto é, presencialmente.
Portanto, se você precisa de alguma consulta médica na quarentena, confira se ela pode ser feita por telefone! Isso evita que você se exponha ao risco de contaminação das ruas, consultórios e meios de transporte.
Um exemplo de consulta que pode ser feita por telefone é a com um psicólogo. Outro caso é o de quem suspeita que esteja com coronavírus por conta de alguns sintomas leves. A pessoa consegue se consultar com um especialista por telefone para ser orientada quanto à melhor atitude a se tomar. Muitas operadoras inclusive têm médicos que estão à disposição para atender por teleconsultas apenas casos suspeitos de Covid-19. Portanto, essa medida, em princípio, é muito boa para evitar possíveis aglomerações. Principalmente quem se encontra em algum grupo de risco deve se atentar à essa opção.
Temos um conteúdo que aborda diversos assuntos sobre a crise do Coronavírus e como ele pode afetar o seu bolso. Leia o conteúdo na íntegra ou escute o podcast.
Venda de planos de saúde por corretores
Um mercado que sempre demandou algum tipo de contato físico é o de vendas de planos de saúde. Os chamados corretores vão até o possível cliente, apresentam as opções, e o contrato é preenchido e assinado manualmente. Entretanto, nessa época de isolamento social o mercado de planos de saúde se tornou mais digital do que nunca. Você consegue contratar agora os planos de saúde da maior parte das operadoras pelo seu site ou aplicativo.
Essa é uma tendência que talvez tenha chegado para ficar. Ou seja, cada vez mais, mesmo depois do período de isolamento, os planos serão contratados de forma digital. Com isso, o leque de possíveis clientes aumenta, e os custos para o processo de contratação diminuem.
Mudanças na saúde causadas pela crise
A previsão dos especialistas da área de saúde é a de que a demanda por consultas, exames e cirurgias vai crescer muito com o fim da quarentena. As pessoas que precisam resolver situações que não são urgentes estão adiando essa resolução para depois do período de isolamento social. Por isso, tanto na rede particular quanto na rede pública, provavelmente o tempo de espera por esses serviços irá aumentar. Não há outra saída: estão todos esperando para fazer seus exames, consultas e cirurgias (se eletivos). Como todos serão liberados ao mesmo tempo, esse cenário é inevitável.
Dúvidas mais comuns dos leitores sobre planos de saúde
Sempre nos dispomos a responder as dúvidas dos nossos leitores na publicação de qualquer conteúdo. Sendo assim, conseguimos perceber que algumas dúvidas sobre planos de saúde são recorrentes. Aproveitamos nossa entrevista com um profissional da área para sanar algumas delas:
1) Quem tem um plano de saúde MEI (Microempreendedor Individual) pode colocar os gastos com o plano na Declaração de Imposto de Renda da pessoa física?
Muitas vezes o Microempreendedor Individual, que possui CNPJ, se confunde com a pessoa física. É possível declarar o plano de saúde no Imposto de Renda de Pessoa Física, desde que você também declare na contabilidade do MEI que recebeu a restituição do valor do plano.
Por exemplo, se a mensalidade custa 100 reais, você irá declarar no MEI que paga todo mês R$ 100,00 para a operadora do plano. Além disso, também deve declarar que recebeu mensalmente os R$ 100,00 da pessoa física como restituição desse serviço. Vale lembrar, por fim, que é muito importante manter as finanças da empresa separadas das suas finanças pessoais.
2) O que é melhor: contratar um plano de saúde para MEI ou para pessoa física?
Existem pessoas que buscam abrir um MEI apenas para contratar um plano de saúde. Elas fazem isso porque alguns planos para MEI são mais baratos que os para pessoa física. Entretanto, há uma determinação da ANS que determina que somente depois de 180 dias (6 meses) da abertura do MEI é que ele pode contratar um plano de saúde nessa modalidade. Ou seja, você deve permanecer 6 meses arcando com os custos de um MEI para só então poder começar a pagar seu plano de saúde nessa modalidade. Essa determinação faz com que na maioria das vezes a melhor escolha seja contratar um plano para pessoa física.
Além disso, a questão dos reajustes que deve ser analisada. Todo ano os preços dos planos de saúde sofrem alteração. Ou seja, existe um reajuste no valor da sua mensalidade, e ele não é o mesmo para planos individuais e para planos empresariais. Os planos de saúde para Pessoa Física têm um limite no reajuste estipulado pela ANS. Já os planos para Pessoa Jurídica não têm esse limite estipulado pela ANS, e sim pela própria operadora do plano. Sendo assim, o reajuste dos planos de Pessoa Jurídica geralmente é maior que o de pessoa física.
Se você quiser saber mais sobre plano de saúde para MEI, temos o conteúdo completo sobre o assunto.
3) O que é mais vantajoso: optar por um plano de saúde ou recorrer a consultas na rede particular quando necessário?
A resposta para essa pergunta depende das preferências de cada pessoa. Para algumas, obviamente o plano de saúde não é nem uma opção, por questões financeiras. Outras, porém, conseguiriam arcar com os custos de um plano de saúde, mas preferem não fazê-lo. Elas preferem fazer algumas consultas particulares anuais apenas quando necessário. Quem faz isso economiza a quantia que gastaria todo mês com um plano de saúde, caso não aconteça nada com ela. Porém, se ela tiver que arcar com os custos de uma internação ou cirurgia, por exemplo, essa opção já deixa de ser vantajosa.
Quem opta por um plano de saúde são as pessoas que preferem ter a segurança de que, em casos de emergência, podem ser amparadas pela rede particular de saúde. Além disso, quem costuma fazer muitas consultas médicas particulares também economiza tendo um plano.
Existe, por fim, uma outra alternativa. As operadoras de plano de saúde oferecem um tipo de plano que tem apenas cobertura hospitalar, onde elas assumem o grande risco, que podem ser emergências, internações, procedimentos cirúrgicos etc. Entretanto, esse plano não cobre consultas médicas e nem exames simples. Sendo assim, o cliente tem uma opção mais barata (aproximadamente 60% do preço de um plano tradicional), mas que também oferece menos benefícios.
Uma outra opção para quem não pode arcar com os custos de uma consulta particular tradicional são as clínicas populares. Para saber mais sobre clínicas populares, veja o conteúdo completo que preparamos.
Conte conosco!
Por fim, podemos concluir que depois da pandemia as coisas não serão exatamente como antes, no ramo dos planos de saúde. Esse mercado, porém, não irá acabar: ele irá se reinventar.
Sabemos que a crise está sendo delicada para a maioria das pessoas, e temos o objetivo de ajudar na medida do possível. Por isso, preparamos alguns conteúdos que podem ser úteis para você:
- Como fazer um planejamento financeiro em tempos de crise;
- Como vender online e manter seu negócio no período de isolamento social.
Caso você ainda tenha alguma dúvida ou sugestão, pode deixar nos comentários, e nós responderemos!