“Entrei na liquidação, saí quase liquidado.
Vinte vezes, vinte meses, eu vendi meu ordenado.”
(Tom Zé, “Sem entrada e sem mais nada”)
Sempre que compramos algo para ser consumido no presente e pago no futuro, estamos contraindo uma dívida. Um simples almoço pago com cartão de crédito é uma dívida. Dito isso, fica claro que as dívidas, em si, não são ruins. Pelo contrário, aliás. Tenho um amigo, das pessoas mais sensatas que conheço, que sempre diz: “Quem não se endivida não progride”.
A questão é saber se endividar. Conhecer seu próprio orçamento, estabelecer prioridades, não cair em certas tentações, conhecer bem cada dívida antes de contratar – especialmente quanto às taxas de juros e às tarifas. Isto é: é preciso respeitar a santíssima trindade da educação financeira. Caso contrário, corre-se o risco de afundar-se nas dívidas.
O endividamento excessivo faz com que a pessoa perca sua capacidade de consumir, pois compromete grande parte de sua renda com o pagamento de prestações ou, pior, de juros e multas. Além disso, pode levá-la a ser inscrita nos temidos cadastros de restrição ao crédito, como SPC e Serasa. E, mais grave, pode obrigá-la à perda de patrimônio – ao precisar vender um carro ou um imóvel para quitar dívidas – e até mesmo à desestruturação familiar.
Se a pessoa sente que está com as dívidas já pelo pescoço e que perdeu o controle de sua vida financeira, é hora de refletir e, principalmente, agir, antes de se afogar de vez. A primeira atitude após essa tomada de consciência é conhecer sua situação. Saber exatamente o quanto recebe por mês e, principalmente, quanto e como gasta. Quanto do seu salário tem ido para pagar suas despesas mensais? E para pagar parcelas de compras antigas? E para juros e multas?
Conhecer as dívidas é fundamental. Saber o valor de cada uma delas, as taxas de juros, as multas e as consequências da inadimplência – inscrição no Serasa, suspensão de serviços essenciais. Isso vai permitir que a pessoa planeje a saída do atoleiro, priorizando o pagamento das piores dívidas. A renegociação é um bom caminho. Muitos credores estão dispostos a abrir mão de juros e multas para receber pelo menos parte dos seus créditos. Se o devedor conhece sua situação, poderá ter muito mais sucesso na renegociação.
Além de cuidar das suas dívidas passadas, a pessoa deve planejar o consumo futuro, conhecendo suas despesas mensais. Avaliar quais são essenciais, analisando se podem ser diminuídas, e identificar as supérfluas, eliminando, pelo menos por um tempo, algumas delas – ou todas, dependendo da gravidade do problema. Esse controle é importante, demos algumas dicas sobre isso aqui no blog algumas semanas atrás.
A disciplina e a mudança de atitude são indispensáveis. A pessoa vai precisar ter uma postura diferente daquela que a conduziu ao poço. Além de controlar suas despesas, não poderá contrair novas dívidas, senão em pouco tempo sua situação estará ainda pior que antes.
Mudar atitudes, reeducar-se e privar-se de consumir não são coisas fáceis para a maioria de nós. Mas, na situação que descrevemos aqui, não há alternativa. A pessoa deve ter em mente que a parte mais amarga do remédio não dura para sempre. Passada a pior fase, ela poderá, aos poucos voltar a consumir. E que, após o tratamento de choque, possivelmente ela poderá fazer isso de forma mais saudável e prazerosa, aproveitando melhor o que a vida pode oferecer, inclusive – principalmente? – aquilo que não custa dinheiro.
Saiba mais sobre o assunto ouvindo nosso podcast: