Você costuma parcelar as suas compras no cartão de crédito? Ou você é daqueles que só usa o cartão de débito, por medo dos juros?
Bem, se você faz parte do segundo grupo, o seu receio é justificado. Afinal, de acordo com pesquisa do Instituto Locomotiva sobre o perfil dos inadimplentes, em 2023, 60% das dívidas dos brasileiros eram com cartões de crédito. O problema disso é que as dívidas do cartão são as que se transformam mais rapidamente em bola de neve.
Sendo assim, com o objetivo de controlar o endividamento pelo uso do cartão de crédito e a quantidade de brasileiros com o nome sujo, o Banco Central lançou novas regras para o rotativo do cartão. Vamos explicar nesse texto o que muda para o seu bolso.
O que é rotativo do cartão de crédito?
Quando você usa o cartão de crédito, recebe uma fatura todo mês com tudo o que gastou. Se você não pagar o valor total desta fatura até o dia do vencimento, pode escolher pagar só uma parte dela, que é o pagamento mínimo. O valor que você não pagou entra no rotativo do cartão.
Funciona assim: o dinheiro que ficou faltando para pagar a fatura inteira vai ser “emprestado” pelo banco, mas eles cobram juros por isso, e esses juros são bem altos. No próximo mês, além de você ter que pagar o que gastou no cartão, também vai ter que pagar os juros do que ficou devendo do mês anterior.
Então, o rotativo é basicamente um empréstimo que o banco faz quando você não paga a fatura inteira, mas com juros altos.
Qual a taxa de juros do crédito rotativo?
O rotativo do cartão é a categoria de crédito mais cara do país, com juros de 455% ao ano em média, de acordo com relatório do Banco Central.
Para fins de comparação, as taxas de juros de outros tipos de crédito costumam variar muito, como podemos ver nessa tabela:
Categoria | Taxa de juros |
---|---|
Cartão de crédito | 455% ao ano |
Empréstimo pessoal | 150,14% ao ano |
Empréstimo com garantia | 40,13% ao ano |
Ou seja, os juros rotativos do cartão conseguem ser mais de 10x maior do que de outras categorias de empréstimo.
Como funciona o rotativo do cartão?
Vamos supor que em setembro de 2024 você tinha uma fatura no cartão de crédito de R$1.000,00. No dia do vencimento, você não tinha como pagar todo o valor, então, se viu com duas opções:
- Pagar o valor mínimo da fatura;
- Não pagar nada
Vamos ver o que acontece em cada uma dessas situações:
1. Pagar o valor mínimo sugerido pelo banco
Quando a fatura do seu cartão fecha, o banco impõe um valor mínimo para você pagar para que o seu nome não fique sujo. Ou seja, para que você não fique inadimplente.
O valor mínimo costuma ser de 15% da fatura e é definido pelo banco Itaú. Logo, no caso de uma fatura de R$1.000,00, o valor mínimo será de R$150,00.
Ao optar por pagar apenas o valor mínimo, você escapa de ficar com o nome sujo. Entretanto, o restante da fatura vencida, R$850,00, será empurrada para a sua fatura seguinte. E adivinha? Acompanhada do temido juros rotativo.
Então, além da sua fatura do mês seguinte, você terá mais R$961,95 para pagar.
Veja a conta:
Você vai pagar apenas de juros: R$850,00 x 13,17% (que corresponde o juros ao mês do cartão de crédito)= R$111,95
R$111,95 somados aos R$850,00 que você não pagou na fatura anterior: R$961,95.
Porém, desde 2017, ao optar pelo pagamento mínimo da fatura, o crédito rotativo só pode ser usado por 30 dias.
A partir daí, as instituições financeiras são obrigadas a oferecer condições de parcelamento automático com juros menores do que o do rotativo do cartão. Ou seja, é como se você trocasse a sua dívida do cartão por um empréstimo pessoal, por exemplo, para quitar o que você deve no cartão.
Mas não se engane, isso não torna essa opção saudável financeiramente e ainda tem como piorar. Veja o próximo cenário.
2. Não pagar nada da fatura
A segunda opção é não pagar nada do valor total da fatura. Nesse caso, além de empurrar todos os R$1.000,00 + juros para a fatura seguinte, você fica inadimplente.
Ao ficar inadimplente, você tem dificuldade em ter acesso a produtos e serviços financeiros, como empréstimos, financiamentos e outros.
Aqui, não existe o limite de ficar no rotativo do cartão por apenas 30 dias. Logo, veja a progressão da sua dívida em até 1 ano:
- 3 meses: R$1.512,56 sendo R$512,56 de juros;
- 6 meses: R$2.287,83 sendo R$ 1.287,83 de juros;
- 9 meses: R$3.460,48 sendo R$ 2.460,48 de juros;
- 12 meses: R$5.234,18 sendo R$4.234,18 de juros.
Ou seja, em 12 meses o saldo devedor da sua dívida pode ficar mais de 5x maior do que o valor inicial.
Atenção! Ao atrasar a fatura do cartão, não são cobrados apenas os juros do rotativo, entretanto, ele é o grande problema por ser muito caro. Além dos juros do rotativo do cartão, também são cobrados: – Multa por atraso, que pode chegar a 2% do valor da fatura; – IOF, imposto sobre operações financeiras, que corresponde a 0,38% do valor devido; – Taxa diária de 0,0082% até que a dívida seja quitada. |
Novas regras do rotativo do cartão de crédito
Para evitar que os brasileiros continuem entrando em emboscadas ao não pagar as faturas do cartão de crédito em dia, o Banco Central criou novas regras limitando os juros. Veja:
1. Sua dívida não vai virar uma bola de neve
A primeira regra diz que a dívida total de quem atrasa a fatura do cartão não poderá ultrapassar o dobro do débito original.
Ou seja, se a sua dívida inicial no banco Inter é de R$1.000, o total da sua dívida, mesmo após a incidência de juros e encargos, não pode ultrapassar R$2.000,00. Se você tem outra divida no cartão no banco Santander no valor de R$500 o total da dívida não pode ultrapassar R$1.000.
O IOF, imposto sobre operações financeiras, fica de fora dessa regra, mas ele não é o vilão aqui porque ele representa um acréscimo irrelevante ao valor da fatura quando comparado com o rotativo.
Essa regra teve início em Janeiro de 2024, ou seja, toda dívida no cartão de crédito contraída a partir dessa data já segue a nova regulamentação. Infelizmente, as dívidas antigas continuam seguindo a regulamentação antiga do rotativo do cartão de crédito.
Com isso os bancos ficaram mais restritivos para conceder crédito, uma vez que não conseguem mais cobrar juros altissimos para os clientes inadimplentes e também por determinação do Banco Central, que busca limitar os limites de crédito para quem já esta endividado.
2. Você pode fazer a portabilidade da sua dívida de forma gratuita
Portabilidade de uma dívida significa você levar a dívida que você tem na instituição X, para a instituição Y. Obviamente você não vai fazer isso apenas para mudar de instituição. Normalmente, o que te leva a fazer uma portabilidade é encontrar taxas melhores em outro lugar.
Então, você não se livra da dívida, mas tem a oportunidade de aproveitar as melhores condições para quitá-la.
Porém, o que dificultava a vida do endividado é que, muitas vezes, o banco cobrava pela portabilidade, e aí, nem sempre, a portabilidade valia a pena no fim das contas.
Com a nova regra, a portabilidade é gratuita. Logo, se outro banco oferecer taxas mais atraentes, você pode migrar a sua dívida sem problemas.
Essa regra teve início em Julho de 2024, então, caso você consiga melhores condições de juros para renegociar sua dívida em outro banco, você pode fazer a portabilidade gratuitamente.
Veja como usar o cartão de crédito de maneira consciente
O cartão de crédito, quando usado de maneira consciente, pode se tornar seu aliado. Sendo assim, veja algumas formas de usar o cartão de crédito de maneira saudável.
1. Crie um limite para as compras no cartão
Para evitar exagerar nos gastos, é importante definir um limite. Você pode começar calculando quanto você ganha e decidindo o máximo que você pode gastar por mês. Esse é o seu limite. Em seguida, é preciso acompanhar todas as suas compras para ter certeza de que não está ultrapassando esse limite.
2. Fique de olho na fatura do seu cartão
Seguindo o raciocínio acima, acompanhar as compras feitas com o seu cartão de crédito pode parecer óbvio, mas muita gente não faz isso: sempre confira o detalhamento da sua fatura de cartão de crédito.
Se você não olhar sua fatura direitinho, alguns erros podem passar despercebidos. Às vezes, podem aparecer cobranças erradas, devoluções que não foram feitas, ou até compras que você nem realizou.
Mas olha que legal: usar o aplicativo do seu banco ou cartão de crédito pode facilitar muito esse processo. Com o app, você tem todas essas informações na palma da sua mão e a qualquer hora, logo, não precisa nem esperar a fatura fechar.
3. Não faça compras desnecessárias
Ofertas e promoções são sempre muito tentadoras. Entretanto, é fundamental pensar duas vezes se você realmente precisa daquilo que está em liquidação.
Ao fazer compras desnecessárias, além de aumentar a fatura do seu cartão, você compromete parte do seu limite. Nesse caso, você pode não conseguir arcar com despesas importantes ou gastos emergenciais, pois gastou com uma roupa ou um jogo novo.
4. Fique atento com o parcelamento de compras
Pagar as compras à vista costuma ser o mais saudável a se fazer. Além de conseguir descontos, você não acumula dívidas para os meses seguintes.
Mas, claro, às vezes dividir o pagamento é a única opção. Por exemplo, se sua geladeira estragar e você não tiver a grana para comprar outra à vista, usar o cartão de crédito e parcelar pode ser a solução.
“se você vai usufruir daquela compra durante meses (geladeira) é justificável parcelar, já se é pra consumo dentro do mês (supermercado) e você já está precisando de parcelar então você já pode ter passado da conta no uso do cartão”
Por isso atenção, parcelar uma compra de várias vezes pode acabar aumentando muito o valor dela. Afinal, quanto mais parcelas, mais juros você paga.
Por outro lado, diminuir a quantidade de parcelas faz com que você tenha parcelas mais altas. Então, é preciso planejamento para que você consiga arcar com essas parcelas mais altas todo mês e não corra o risco de ficar inadimplente.
5. Denuncie cobranças não reconhecidas
Se você notar compras estranhas no seu cartão, mesmo que sejam de valores pequenos, é hora de acionar o seu banco.
Criminosos que roubam informações de cartões costumam fazer compras de valores pequenos, só para ver se o cartão está funcionando e validá-lo. Quando dá certo, eles partem para compras maiores. Por isso, é super importante avisar o banco sobre qualquer atividade suspeita o mais rápido possível.
Uma forma simples de ficar de olho é permitir ser notificado sempre que alguma compra for feita com o seu cartão. Assim, ao não reconhecer uma compra, você consegue entrar em contato com o banco rapidamente.
6. Tome cuidado com golpes
A quantidade de golpes existentes envolvendo cartão de crédito é imensa, sendo assim, todo cuidado é pouco. Algumas boas práticas para prevenir golpes são:
- Não empreste seu cartão de crédito para qualquer um.
- Sempre verifique o valor do que você está comprando.
- Cuidado ao fornecer informações do seu cartão na internet. Dê preferência por usar um cartão virtual e não deixe os dados do seu cartão salvo no computador.
- Não forneça informações do seu cartão na internet.
- Ajuste o limite do seu cartão, não deixe um valor além do necessário disponível.
- Dê preferência aos pagamentos por aproximação, isso diminui as chances do seu cartão ser clonado.
Enfim, esteja sempre alerta!
Conclusão: devo usar o cartão de crédito?
O cartão de crédito está presente na vida de praticamente todas as famílias brasileiras. Ele permite que bens e serviços sejam consumidos mesmo que a família não tenha aquele dinheiro no momento.
Sendo assim, ele aumenta a possibilidade de consumo dos brasileiros. Afinal, você pode não ter o dinheiro para comprar uma televisão à vista, mas você pode ser capaz de comprá-la de forma parcelada.
Porém, o outro lado da moeda pode ser sombrio. Se você não conseguir arcar com o pagamento da fatura do seu cartão, pode acabar com uma bola de neve de dívidas.
Então, para que você use o cartão de forma saudável é importante estar a par das regras do rotativo do cartão de crédito, que são os juros cobrados quando não se paga a fatura integralmente.
São os juros rotativos do cartão que tem o poder de aumentar, e muito, o valor da sua dívida. Então, ele merece atenção.
Por fim, siga as instruções que nós trouxemos de como usar o cartão de crédito de forma saudável, assim, o seu cartão será um aliado e não um vilão da sua vida financeira.
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