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Você corre na Esteira da Felicidade?

Aqui vai uma história instrutiva sobre duas pessoas que lidam com dinheiro de maneiras totalmente diferentes.

Conheço um renomado profissional que é um enorme sucesso por qualquer padrão. Muito cedo já empregava dezenas de pessoas em um grande escritório que ele mesmo fundou e que hoje tem filiais mundo afora (dentre uma série de outras realizações até mais impressionantes ainda, mas que não citarei aqui para não permitir a sua identificação).  Ele trabalha por volta de 80 horas por semana, sem parar, fins de semana e férias inclusive. Viaja como um louco e vive refém dos seus clientes. O telefone celular é o seu amo.

Ele não acha que ele tem dinheiro suficiente para relaxar, não pode deixar de atender o telefone, pois pode ser um cliente e ele vive de atendê-los. “Prontamente”, segundo me disse. Outro dia, perguntei a ele se não tinha receio de se tornar um alvo da violência, por usar os carros importados caríssimos que possui. Ele me respondeu que para ele ter um carro comum não é opção, seus clientes enxergariam isto com um sinal de fraqueza, empobrecimento, insucesso. “Seria ruim para os negócios”, disse.

Agora vejamos a situação do meu outro personagem. Também caso real. Ele se aposentou mais cedo, quando com um patrimônio de um carro, sua casa própria e R$ 600.000 em investimentos, fez as contas e chegou a conclusão que os R$40.000 de juros reais por ano (acima da inflação) gerados pela aplicação financeira serão suficientes para toda a vida. Em visita recente à casa dele, minha família e eu passamos um sábado extraordinário, alegre e leve, fazendo coisas que não fazia desde menino e o melhor, sem ser interrompido uma vez sequer pelo celular.

Curioso com sua coragem, perguntei sobre o dinheiro e ele me disse: “R$ 3.300 por mês vai muito longe se você não tem aluguel ou financiamentos para pagar”. Tudo bem que ele mora no interior, onde a vida é mais barata e seus filhos já estão criados, mas os R$ 40 mil que ele ganha por ano não chegam perto da remuneração mensal do meu primeiro personagem. Qual é a pegadinha então?! Por que o “mais pobre” tem uma “vida mais rica”?

Uma das lições mais importantes sobre dinheiro é que a riqueza é relativa. Alguém com milhões no banco pode se sentir à falência, enquanto alguém com um estoque modesto pode se sentir como se estivesse no topo do mundo, tão rico que se dá ao direito de se aposentar bem mais cedo, enquanto ainda tem energia para aproveitar a vida.

Pense sobre isso. Vá além, pense que, de acordo com o economista do Banco Mundial Branko Milanovic, se você ganhar mais de US$ 34.000 por ano, o que equivaleria grosso modo a um salário de pouco mais de R$ 8 mil por mês, você faz parte do 1% mais rico do mundo. Que tal?

Nós sempre pensamos sobre a riqueza como um número. Mas é realmente apenas um sentimento, um produto de suas próprias expectativas.

Negritei, pois acho isto muito importante, afinal um monte de gente fala sobre como ficar rico, mas poucos falam sobre como permanecer rico.

Meu amigo Daniel Loureiro escreveu sobre isto outro dia aqui no blog. Sempre passa por ganhar um monte de dinheiro. Mas para permanecer rico você tem que fazer outra coisa. Você tem que garantir que as suas expectativas não cresçam mais rápido do que a sua riqueza.

Já frequentei lugares em que as pessoas tinham mais dinheiro do que eu poderia sonhar, com jatos particulares, iates e Ferraris. Mas quanto mais lidava com eles, mais eu percebia que eram algumas das pessoas mais infelizes,  nervosos, irritadiços, e insatisfeitos que já conheci. A sociedade nos diz que essas pessoas deveriam estar nadando em felicidade. Mas não era isso que eu via.

Acho que parte disso deve-se às personalidades destas pessoas, competitivas, não podem ficar para trás. Outra parte é que para cada real de riqueza que eles ganharam, eles aumentavam o referencial de sucesso em outros dois reais. A única coisa que cresceu mais rápido do que as suas contas bancárias era o seu desejo de outra casa, outro carro e outro barco.

Ouvi deles muitas coisas, do tipo: “Se lembram do Homem de US$ 6 milhões? Hoje em dia isso não vale mais nada…!”. Qualquer pessoa nessa situação não vai se sentir rico, independentemente da quantidade de dinheiro que eles têm. É pior do que andar em círculos. É correr para trás, a velocidade de 80 horas por semana, no caso do primeiro personagem.

Por outro lado, uma pessoa que ganha R$ 40.000 por ano, mas só precisa de R$ 30.000 para ser feliz é muito mais rica do que a que ganha R$ 1 milhão, mas precisa de R$ 1,1 milhão. Isso parece óbvio, mas é chocante quantas pessoas ignoram suas próprias expectativas quando tentam melhorar suas vidas financeiras.

Estou convencido de que a chave para ser uma pessoa feliz é a capacidade de ancorar as suas expectativas, assim como nosso aposentado precoce fez. Caso contrário, você vai acabar como o nosso renomado profissional – muito dinheiro, mas perpetuamente insatisfeito com o que você tem. Quão bom é isso?

Depois de necessidades básicas estão cobertas, cada real em renda extra não produz muita felicidade extra, porque você se acostuma com seu novo carro e roupas bonitas muito rapidamente. Há pesquisas sobre o assunto, se você quiser pesquise depois sobre a Esteira Hedonista.

Na minha modesta opinião, o que aumenta a felicidade das pessoas mais do que tudo é ter controle sobre o seu tempo, a autonomia em seu trabalho e flexibilidade em sua programação.

Muitos dos ricos de quem falei não se sentiam ricos, porque quanto mais dinheiro ganhavam, mais coisas desejavam, o que lhes obrigava a trabalhar mais, o que tornava suas vidas mais estressantes e complicadas.

Nosso aposentado precoce se sentia rico, porque ele manteve as suas expectativas baixas e usou suas modestas economias para assumir o controle total sobre o seu tempo, se aposentando bem mais cedo.

Eis como ele mesmo disse: “A maneira mais rápida de mudar as coisas [em sua vida financeira] é perceber que você tem muito mais controle do que você imagina. O tempo para atingir a aposentadoria depende de apenas uma coisa: a sua taxa de poupança. E isso depende inteiramente de quanto você gasta. Então, o momento em que você aprende a viver uma vida menos cara, de repente, torna as nuvens mais claras e o quadro financeiro se ilumina consideravelmente.”

Antes que me chamem de pão-duro, ressalto que isso não significa viver como um avarento. Eu não quero viver como um monge. Mas, independentemente de quanto dinheiro você acha que vai precisar para ser feliz, a chave para não só ficar rico, mas também se sentir rico e permanecer rico, está em garantir que o seu dinheiro cresça no mesmo ritmo que – ou mais rápido do que – o seu desejo de gastá-lo.

Algo para se pensar, ou melhor, para praticar!

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