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Vale a pena entrar na previdência privada da empresa ou é melhor investir por conta própria?

Maria conseguiu uma nova vaga em uma empresa grande e, entre os benefícios, descobriu que teria direito a um plano de previdência privada empresarial.
Na mesma hora, lembrou de uma amiga que também tinha esse benefício, mas que reclamava de não conseguir resgatar o dinheiro quando saiu da empresa.

Será que a previdência privada empresarial é realmente um bom negócio ou é mais uma forma de “segurar” o funcionário? Essa é uma dúvida comum,  e a resposta depende de alguns pontos importantes.

Como funciona o investimento? 

Todo mês, uma parte do seu salário é descontada e vai direto para o seu plano de previdência privada, que pode ser feito por bancos como Bradesco, Itaú, Caixa, Banco do Brasil, Porto Seguro, Sicredi e outros.

A boa notícia é que a empresa também coloca dinheiro junto com você. Para cada real que você aplica, ela coloca outro, até um limite (por exemplo, 7% do seu salário). É como se fosse um “bônus” pelo seu esforço em guardar para o futuro.

Se quiser investir mais para aproveitar o benefício do Imposto de Renda, que permite deduzir até 12% da renda tributável, pode colocar mais dinheiro por conta própria. Mas a empresa só acompanha até o limite dela.

No caso da Maria, por exemplo, ela investe R$120. A empresa entra com R$70. No fim, a conta de previdência dela recebe R$190 por mês.

Mas tem um detalhe: o dinheiro que você coloca é sempre seu, já o da empresa pode ter regras. Se você sair do emprego antes de um certo tempo, pode perder parte ou todo o valor que ela colocou, tipo aquelas promoções de celular em que você ganha desconto, mas precisa ficar dois anos com a operadora.

E onde fica o dinheiro da previdência?

O dinheiro da previdência é aplicado em fundos de investimento, o que facilita muito a vida da Maria. Ela não precisa escolher ações ou reaplicar o dinheiro quando um investimento vence, tudo é feito automaticamente dentro do fundo.

A empresa costuma ter uma parceria com uma seguradora, como a Brasilprev, por exemplo. A partir daí, a Maria pode escolher em qual fundo da seguradora quer aplicar: um de renda fixa, multimercado, ou outro que se encaixe no perfil dela (mais conservador, moderado ou arrojado).

E se ela não gostar do desempenho de um fundo, pode trocar (fazer portabilidade) a cada seis meses. Por exemplo: se o fundo de crédito privado não foi bem no semestre, ela pode levar o dinheiro para um fundo multimercado sem precisar resgatar e começar tudo de novo.

O detalhe importante: carência e regras

Aqui está o ponto que costuma gerar frustração: a sua parte do investimento é sempre sua, mas a parte da empresa pode ter regras de carência.

Ou seja: pode ser que você só consiga levar a contrapartida da empresa se ficar um tempo mínimo na casa.

É uma forma de fidelizar funcionários. Se sair antes do prazo, a empresa pode reter o valor que colocou.

Existe incentivo fiscal para a empresa?

Sim. Para a empresa, oferecer previdência privada também pode ser vantajoso:

  • Pode deduzir essas contribuições como despesas operacionais.
  • Funciona como benefício para atrair e reter talentos.
  • Passa a imagem de preocupação com o futuro do funcionário.

Quando a previdência privada empresarial compensa?

Aqui está o pulo do gato. Esse tipo de previdência só vale a pena se você pretende ficar na empresa por um bom tempo. Exemplo:


Maria ganha R$5.000 por mês.


Ela contribui com 5% (R$250), e a empresa entra com mais R$250, dentro do limite de 7%.
No fim do mês, R$500 vão para o plano de previdência dela.

Ao longo de um ano, isso significa R$6.000 investidos, sendo R$3.000 do bolso da empresa. Se o limite fosse 8%, daria quase R$4.800 (o equivalente a um 13º salário a mais, pago em forma de investimento)

Porém, essa não é uma aplicação para resgatar a qualquer momento.  A previdência entra lá no fim da fila dos investimentos, depois da reserva de emergência e de aplicações mais líquidas, como Tesouro Selic ou CDBs de resgate diário.

Ela faz mais sentido para quem já tem uma base financeira organizada e quer pensar no longo prazo, e ainda aproveitar o benefício do Imposto de Renda, que permite deduzir até 12% da renda tributável com aportes em previdência PGBL.

Além disso, se você sair da empresa, pode transferir o saldo acumulado ( pelo menos a sua parte) para um plano individual em outra instituição, sem perder o histórico.

E isso pode ser financeiramente vantajoso, já que na tabela regressiva do Imposto de Renda, a alíquota cai de 35% para 10% após 10 anos.

PGBL ou VGBL: qual escolher?

Nos planos empresariais, geralmente o funcionário pode escolher entre PGBL e VGBL.

  • PGBL: bom para quem declara IR no modelo completo, já que permite abater até 12% da renda bruta anual.
  • VGBL: indicado para quem declara no modelo simplificado ou já atingiu o limite de dedução. Nesse caso, o IR incide apenas sobre os rendimentos.

Além disso, é preciso optar entre a tabela progressiva (como no IR comum) ou regressiva (quanto mais tempo deixar aplicado, menor a alíquota, que vai de 35% a 10%).

Explicando na prática

João e Ana trabalham na mesma empresa, que oferece previdência privada empresarial.

  • João resolve contribuir e planeja ficar anos lá. Com a contrapartida da empresa, em 10 anos ele acumula o dobro do que conseguiria sozinho.
  • Ana também contribui, mas sai depois de 1 ano. Ela só consegue levar a parte dela, e a contrapartida da empresa fica para trás.

Ou seja: a previdência privada empresarial é ótima para quem tem estabilidade ou pretende ficar. Para quem vive mudando de emprego, você vai deixar de ganhar aquele valor.

Alguém pode pensar: “Ah, mas esse dinheiro nem saiu do meu bolso mesmo…” 

Tudo bem, mas a questão é que o plano da empresa pode ser mais limitado, com menos opções de fundos ou regras mais engessadas do que um plano individual.

Na prática, porém, essas diferenças são pequenas. Uma seguradora grande costuma oferecer vários fundos e perfis de investimento, então é difícil não encontrar algo que combine com o seu estilo.

Agora, se você for aquele investidor que entende muito de mercado e encontrou um PGBL de um gestor menor e mais especializado com rentabilidade muito superior, aí sim pode fazer diferença. Mas esse tipo de investidor é exceção, não a regra.

Previdência privada empresarial x investir por conta própria: o que é melhor?

Muita gente se pergunta: “não seria mais simples investir por conta própria em vez de entrar num plano de previdência privada empresarial?”
A resposta depende do que você está comparando.

Se a dúvida é entre investir para o longo prazo em um plano de previdência (seja empresarial ou individual) e guardar em aplicações comuns, como Tesouro Direto ou CDB, aí estamos falando de objetivos diferentes.

Agora, se a comparação é entre um PGBL empresarial e um PGBL individual, o raciocínio muda. É como plano de saúde: primeiro você decide que quer um, depois escolhe se vale mais a pena o da empresa ou o particular.

Na previdência empresarial, o grande atrativo é a contrapartida da empresa, o famoso “dinheiro dobrado”. É como uma promoção de supermercado: você paga um e leva dois. A desvantagem é que existem regras de carência e, se sair da empresa cedo, pode perder a parte dela.

Já no PGBL individual, você não tem a ajuda da empresa, mas tem total liberdade para escolher onde aplicar, quanto aportar e quando mudar de fundo. É ideal para quem quer manter o controle, mesmo sem o “bônus” da empresa.

Dúvidas frequentes

Previdência privada empresarial vale a pena?

Vale sim, mas principalmente se você pretende ficar na empresa. É como plantar uma árvore: se você vai embora antes dela dar fruto, não aproveita a sombra nem as frutas.

Como funciona o resgate da previdência privada empresarial?

A sua parte você pode resgatar, mas a parte da empresa pode ter prazo mínimo.

Existe previdência privada para pessoa jurídica?

Existe sim. Empresas podem contratar planos coletivos para os funcionários. Já quem tem CNPJ próprio (como MEI) precisa contratar um plano individual.

Como funciona a aposentadoria para quem tem CNPJ?

Para quem tem CNPJ, não existe a “ajuda da empresa”. A pessoa contrata um plano individual e paga sozinha.

Qual a natureza jurídica da previdência privada?

É um contrato entre você, a empresa e a seguradora. Diferente do INSS, que é obrigatório, a previdência privada é opcional.

O que a Lei nº 108/2001 regulamenta?

A Lei nº 108/2001 é basicamente o manual de regras da previdência complementar — serve para garantir que esses planos funcionem de forma organizada e segura, sem virar bagunça.

Ela define, por exemplo:

  • Como devem funcionar os planos de previdência complementar fechados (aqueles ligados a empresas e entidades de classe, como o da Maria ou o da empresa em que João trabalha);
  • Quais são as responsabilidades da empresa patrocinadora e da entidade que administra o plano;
  • Como deve ocorrer a gestão dos recursos (para evitar riscos excessivos e proteger o dinheiro dos participantes);
  • E ainda exige transparência na comunicação, regras claras de carência, portabilidade e resgate.

A lei ajuda a garantir que tanto os planos empresariais quanto os individuais sigam normas semelhantes de segurança e governança.

Conclusão: a empresa realmente é boazinha?

A previdência privada empresarial pode ser um baita benefício, mas não é milagre. Ela funciona melhor para quem pensa no médio e longo prazo.

Se você pretende ficar na empresa por um tempo e aproveitar a contrapartida, vale muito a pena. É um incentivo para guardar dinheiro e ainda multiplicar o que você investe, com a ajuda da empresa.

Mais do que isso, esse tipo de plano estimula o bom comportamento financeiro:

  1. Do lado do empregado, incentiva a buscar empresas que ofereçam o benefício ou, se já está contratado, a pensar com mais cuidado sobre planejamento e futuro financeiro.
  2. Do lado da empresa, eleva o nível da conversa sobre bem-estar e segurança financeira dentro do RH, mostrando preocupação real com o futuro dos colaboradores.

A previdência privada empresarial não é só um investimento, é um passo na direção certa. Um empurrãozinho para que tanto empresas quanto funcionários pensem além do curto prazo e construam uma relação mais saudável com o dinheiro.

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