Natal virou sinônimo de presente. Se não tem uma “lembrancinha” que seja, estamos fazendo isso errado – pelo menos segundo a cartilha da publicidade, que nos bombardeia o tempo inteiro, cada vez com mais antecedência e em todos os meios de comunicação. Não dá para escapar: você liga o rádio ou a TV, abre os jornais, acessa o e-mail e eles estão lá, os anúncios, sempre com uma nova oferta, capitaneados pelo garoto-propaganda indefectível desta época, com sua barba espessa branca e as pesadas roupas vermelhas, incompatíveis com o calor desta época do ano no Brasil. Se você opta por não dar presente, você é culpado. Se você opta por não ganhar presente, desista, ele sempre vai aparecer. Ou seja, é praticamente impossível não consumir nesta época do ano, já que o tal “espírito natalino” parece muito mais passar pelos bens e posses.
Ano passado, eu pedi encarecidamente aos familiares que não me dessem presente. Acharam absurdo, inimaginável. Tentei contornar: ok, então, se querem me dar alguma coisa, comprem casinhas de cachorro e ração. Como eu amo animais, a ideia era, então, converter os presentes em doações para pessoas que retiram cachorros e gatos das ruas. Não deu muito certo: até ganhei uma casinha de cachorro, mas também ganhei coisas pra casa, produtos de beleza, dinheiro, perfume… Cremes, então, não preciso comprar pelos próximos cinco anos, de tanto que ganho, sem pedir. Este ano, já atendi duas ligações da família, perguntando o que queria de presente. Diante da inutilidade de responder “nada”, tive que me redobrar para pensar em ideias baratas e que possam ser úteis. Agora, vou ter que pensar em alguma coisa para retribuir, afinal os “bons modos” da tradicional família mineira me dizem que retribuir é preciso. Enfim…
Foi nesse dilema entre remar contra a maré do consumismo e manter esse certo “costume” que se embrenhou no Natal que encontrei uma iniciativa muito interessante. Adriana Torres, que é consultora de marketing/comunicação integrada e voluntária do Movimento Nossa BH, sempre muito comprometida com a cidadania e com diversos outros movimentos sociais, teve a ideia de usar o recurso de eventos do Facebook para reunir ideias de presente que vão na contramão do “mercadão de Natal”, privilegiando o artesanato e produtos feitos por pequenos produtores. A iniciativa ganhou o nome de Feira de Natal Virtual.
“A ideia é promover um Natal responsável, em que não deixaremos de homenagear/presentear quem amamos, mas de forma consciente”, explica Adriana. Funciona da seguinte maneira: artesãos, microempreendedores, pequenas marcas postam seus produtos no mural do evento e quem está lá convidado pode entrar em contato direto com esses vendedores e combinar a compra. “Em vez de você dar seu suado dinheirinho para grandes empresas, você terá a chance de encontrar presentes que: 1) caibam no seu bolso; 2) promovam a cultura local; 3) sejam produzidos por microempreendedores, amigas e amigos que estão na batalha diária. Um dos pilares da responsabilidade social é o fomento à economia local, na contratação de micro e pequenos fornecedores. Isso gera emprego e também cidadania, valorizando a criatividade, fomentando a inclusão social e a distribuição de renda”, acrescenta ela, destacando que qualquer pessoa pode e deve convidar os contatos para comungar da ideia.
Gostou da iniciativa? Para ver o evento e ter acesso a essa rede, basta ir na página do evento, clicando aqui.
Maravilha Liliane, finalmente alguém que não acha esquisitice (ou pior, algum desvio de condutda patológico…) evitar o consumismo do Natal! A data, cujo sentido original era religioso, para muita gente virou adoração do ato (obsessivo compulsivo?) de comprar. Que sua mensagem seja ouvida!
Ei, Wagner! Obrigada! Bom saber que não estamos sós, né?
Abraços e volte sempre!