Estou naquela fase da vida que metade dos amigos está firmando compromissos com os parceiros e a outra metade continua à procura do par ideal. Alguns convites de casamento ainda vem, mas a maioria chama só pro “chá de casa nova” quando juntam as malas sem cerimônia, a famosa união estável.
Acontece que ela está mais comum do que nunca, e os casamentos ficando mais raros, de acordo com o Censo de 2022, divulgado esse ano. Estão chamando isso de “o novo normal dos casais brasileiros”. Morar junto? Sim. Mas sem véu e grinalda e, principalmente, sem festa que abre um rombo no orçamento.
Como funciona a união estável?
A união estável acontece quando duas pessoas moram juntas e vivem como família, mesmo sem casamento no papel. No Brasil, isso é reconhecido por lei desde 1996 e garante os mesmos direitos do casamento.
Na prática, se os dois moram juntos, o relacionamento é público, contínuo e com intenção de construir uma vida juntos, ele já pode ser considerado união estável, mesmo sem contrato ou registro em cartório.
Quem tem união estável tem direito aos bens?
Se ninguém combinar nada, vale automaticamente a comunhão parcial de bens: tudo o que for comprado durante a convivência tende a ser dividido meio a meio. Além disso, a união pode dar direito à herança, pensão e outros benefícios, desde que seja possível comprovar a relação.
Não é obrigatório fazer contrato, mas formalizar a união estável em cartório ajuda a evitar dor de cabeça, principalmente em caso de separação ou falecimento. Dá para escolher outro regime de bens e deixar tudo mais claro, o que nesse caso te garante os mesmos direitos do casamento, mas sem a certidão e gastando bem menos.
O casamento perdeu espaço, mas não por falta de amor
Os dados do Censo mostram, além de uma alta no número da chamada união consensual, a queda no casamento tradicional. No mesmo período, o número de formalizações (civil + religioso) caiu de 42,9% para 37,9%.
Mas isso não significa que o amor acabou e que os brasileiros deixaram de se comprometer. O que mudou foi a forma desse compromisso. Morar junto virou a alternativa em um país onde estabilidade financeira é exceção, não regra.
Qual a diferença entre casamento e união estável?
Na prática, casamento e união estável dão direitos muito parecidos, mas funcionam de jeitos diferentes, principalmente quando o assunto é burocracia e custo.
O casamento começa no papel. Ele exige registro no cartório e, muitas vezes, envolve gastos com cerimônia e festa, que podem passar de R$50.000. A vantagem é que no papel, tudo já nasce organizado: regime de bens definido, direitos claros e menos espaço para discussão no futuro.
A união estável nasce da convivência. Não precisa de registro para existir, o que torna tudo mais simples e barato no começo. O problema é que, sem formalização, pode ser necessário provar a relação depois, o que costuma gerar conflitos em separações ou disputas por herança.
Quanto custa o papel de união estável no cartório?
Segundo a VLV Advogados, para emitir a escritura pública (um contrato entre vocês que passa a valer juridicamente), os custos podem girar em torno de R$100 e R$600, dependendo do estado. Em Minas Gerais, por exemplo, a escritura pode custar por volta de R$400, já no Rio de Janeiro, você encontra o serviço R$200. Por isso, antes de decidir, pesquise e veja quanto fica na sua região
Já os custos do casamento tradicional envolvem habilitação e emissão e registro da certidão de casamento, o que deixa tudo mais caro. E se tiver cerimônia fora do cartório, pode subir para algo entre mil e 1.500 reais, por conta do deslocamento do oficial ou do Juiz de Paz.

Casamento custa caro
Os dados do IBGE escancaram uma diferença que passa longe do romantismo. Entre pessoas com renda de até meio salário mínimo, mais da metade vive em união consensual. Já entre quem ganha acima de cinco salários mínimos, apenas um quarto escolhe esse modelo.
Na prática, quem tem mais renda consegue bancar o ritual, o papel e a segurança jurídica que vêm junto do casamento formal. Quem tem menos, improvisa. Não por preferência ideológica, mas por necessidade.
Uma escolha cada vez mais jovem
A mudança também tem idade. A união consensual é majoritária entre adultos de 20 a 39 anos, enquanto o casamento tradicional se concentra entre pessoas com mais de 40 anos.
Isso acontece porque os jovens enfrentam salários mais baixos, trabalho instável, aluguel alto e crédito caro. Nesse cenário, oficializar a relação fica em segundo plano. Primeiro vem dividir despesas, sobreviver ao mês e tentar guardar algum dinheiro.
Morar junto é simples, mas não é barato
Apesar de parecer mais fácil, não significa que a união estável não tenha impacto no bolso. Ela envolve questões financeiras e jurídicas que muita gente só percebe quando surge um problema.
Se você só juntar, sem formalizar no cartório, direitos como herança, pensão, divisão de bens e até acesso a benefícios não são automáticos. Em situações de separação ou falecimento, é preciso provar a relação, o que pode gerar conflito e desgaste emocional.
Independente do tipo de união, falar sobre dinheiro sempre foi e sempre será importante. Organizar gastos, definir regras e planejar o futuro é uma necessidade básica, não um detalhe.
Conclusão: é melhor casar ou fazer união estável?
Não existe uma resposta única. Os dados do IBGE mostram que o casamento deixou de ser o único caminho, mas isso não significa que a união estável seja, hoje, um modelo totalmente diferente ou mais simples do ponto de vista jurídico.
Na prática, casamento e união estável formalizada acabaram ficando muito parecidos. A formalização em cartório da união estável traz regras, registros e efeitos jurídicos quase idênticos aos do casamento. Em muitos casos, a diferença está mais no nome do contrato do que na estrutura em si.
A união estável costuma ser vista como mais acessível, mas essa flexibilidade existe principalmente quando ela não é registrada. No fim, o Brasil não está abandonando o compromisso, mas ajustando suas formas. O ponto central não é escolher entre rótulos, e sim entender que o amor organiza a vida a dois, mas é o entendimento claro das regras e o planejamento financeiro que evitam conflitos no futuro.
Dica final do ESB: Se precisar de ajuda para organizar suas finanças antes de morar junto, baixe nossa planilha de planejamento para casais.