Outro dia, fui visitar minha prima no interior. Quando cheguei, ela tava no sofá, olhando pro nada, com o controle remoto na mão passeando pelos streamings e a cara de quem já viu tudo e não gostou de nada. “Tem mil opções e nada que preste pra assistir”, resmungou. Curiosa, perguntei quantos streamings ela tinha em casa.
“Ah, tem Netflix, Prime, HBO, Disney, Globoplay…”, começou a listar. E foi aí que eu parei de prestar atenção no tédio dela e comecei a fazer conta mental.
Na sétima plataforma citada, meu cérebro já tinha travado. Quando somei tudo, a conclusão foi: ela paga mais de R$200 por mês só pra continuar reclamando que “não tem nada bom”.
E foi aí que a ficha caiu: será que a gente está mesmo pagando por entretenimento, ou só acumulando boletos digitais com o nome de série?
Quanto custa essa brincadeira de assistir “nada”?
Você pode até pensar que tá gastando pouco: R$19,90 aqui, R$33,90 ali… Mas no fechamento do mês, o buraco é fundo. Streaming virou quase item de sobrevivência: tá na mesma categoria do Wi-Fi, papel higiênico e, se duvidar, até do remedinho pra ansiedade.
De acordo com pesquisas, 79% dos brasileiros já encaixam serviços de streaming no orçamento fixo. Em alguns casos, essas assinaturas chegam a consumir 15% do salário mínimo. Sim, só pra poder ter “opção” na hora de escolher o que assistir, e acabar vendo sempre a mesma coisa.
Os serviços de streaming mais populares (e o rombo que causam)
Individualmente, eles parecem inofensivos. Mas junta aquele medo de perder a nova temporada, a série da moda ou a novela da Globo e pronto: a carteira sofre.
Olha só a soma dos principais serviços:
- Netflix (Plano Padrão): R$ 44,90
- Prime Video: R$ 19,90
- HBO Max: R$ 29,90
- Globoplay: R$ 39,90
- Apple TV+: R$ 21,90
- Disney+: R$ 43,90
- Spotify: R$ 16,90
- YouTube Premium: R$ 16,90
Total: R$ 239,20 por mês.
Ou seja: mesmo sem assistir tudo, muita gente tá pagando por tudo, só pra garantir que “tem”.
Streaming barato? Só no nome
O Prime Video ainda é considerado um dos mais econômicos (R$19,90), mas quem já usou sabe: dentro dele tem conteúdo pago à parte: como Paramount+, Telecine e HBO Max, além de filmes que exigem compra ou aluguel adicional.
Do outro lado, a Netflix cobra até R$59,90 no plano mais completo, e já não permite mais dividir conta com quem mora em outra casa. Identificou outro endereço? Bloqueia. Simples assim. E claro: tudo isso tem um motivo. Mais grana entrando.
A pergunta que fica é: a gente tá mesmo pagando pra ver série, ou só pela sensação de “estar por dentro”?
Dá pra ver streaming de graça? Dá. Mas…
Se a grana apertar, tem sim alternativas gratuitas. A Pluto TV, por exemplo, oferece filmes, séries e até canais ao vivo sem mensalidade. Mas, claro, tem anúncios. E o catálogo é bem mais modesto, não espere os últimos lançamentos do cinema.
Ainda assim, entre isso e entrar no cheque especial por causa da quinta assinatura esquecida, talvez seja melhor se contentar com um documentário independente.
E os testes grátis?
Esses testes são a porta de entrada de muita gente. Normalmente, oferecem 7 ou 30 dias gratuitos, e depois viram assinatura automática. Muita gente esquece de cancelar e… tchau, orçamento.
Um truque útil pra quem usa iPhone: dá pra ativar o teste, cancelar imediatamente, e continuar aproveitando o período gratuito até o fim. Assim, evita surpresas na fatura.
Basta ir em Ajustes > ID Apple > Assinaturas, localizar o serviço e cancelar por ali mesmo.
O que pesa mais: o streaming ou a conta de luz?
Parece brincadeira, mas tem casa onde o total das assinaturas de streaming é maior do que a fatura da CEMIG. Junta Spotify + Disney+, e pronto: lá se foram R$100.
De acordo com a Forbes, aquilo que surgiu como distração na pandemia virou despesa fixa. O brasileiro até tem medo de boleto, mas o pânico de perder o episódio novo da série que todo mundo comenta é maior.
TV por assinatura ainda é vilã?
Por anos, ouvimos que streaming era mais barato que TV a cabo. E era, lá em 2015, com uma única assinatura. Hoje, com meia dúzia de apps no celular, a economia virou ilusão.
Ou seja, somando os streamings mais populares, você pode desembolsar quase 15% do salário mínimo. Enquanto isso, um pacote médio de TV por assinatura custa entre R$100 e R$150.
E tem mais: na TV a cabo você zapeava sem pensar. Agora, são 30 minutos escolhendo o que ver… pra dormir nos 10 primeiros.
Tá no comando ou só clicando em “Assinar”?
Streaming é tipo salgadinho: começa com um só, mas quando vê, já assinou cinco. O problema não é o conteúdo, é o impulso.
Esses serviços, junto com apps de delivery e transporte, são os novos vilões invisíveis do orçamento. Vão comendo seu dinheiro aos poucos, sem você perceber.
Quer fugir dessa armadilha? Aqui vão algumas dicas práticas:
- Faça um levantamento: o que você realmente assiste?
- Revezamento funciona: assina um, maratona, cancela e vai pro próximo.
- Divida senhas (com moderação): se o plano permite, por que pagar sozinho?
Conclusão: o problema não é o streaming, é o exagero
Assinar streaming não é errado. O problema é acumular mais do que consegue consumir, sem nem perceber o impacto disso nas finanças. Ou seja, é como se entupir de chocolate e depois se assustar com o número na balança. Assinar tudo não te dá mais tempo livre, só mais boletos.
Talvez o plot twist da sua vida financeira esteja aí, escondido entre uma mensalidade esquecida e um catálogo que você nem explora. Então, spoiler do próximo episódio? Economizar. E dormir em paz, sem pensar no próximo débito automático.