Você, leitor, lembra-se de como foi o seu primeiro contato com o dinheiro? Consegue recordar a primeira vez em que precisou dele para comprar algo? Será que precisava de muito dinheiro, de pouco, e como essa experiência aconteceu?
Eu me lembro bem da primeira vez em que recebi uma nota de papel-moeda para comprar um picolé. Naquele momento, eu queria, na verdade, as moedas — afinal, eram muitas, e eu achava que o valor seria maior.
O valor do dinheiro
Em um primeiro momento, lembro-me de pedir uma moeda para minha mãe, para comprar um chiclete no baleiro da escola. Recordo vividamente a sensação de frustração quando o baleiro olhou para aquela moeda grande, cheia de zeros (na época, os cruzados), e disse: “Menina, isso aí não dá para um chiclete, nem meio chiclete.” Na hora, pensei: como isso era possível? Tinha tantos zeros ali…
Anos mais tarde, já com mais de dez anos na área de educação infantil, como educadora, tive a oportunidade de transformar essa curiosidade inicial em aprendizado. Hoje, posso proporcionar aos meus alunos brincadeiras, oficinas e atividades que os incentivam a pensar sobre o uso do dinheiro desde a infância. Com o tempo, meu interesse por esse tema foi crescendo, até se transformar no assunto central da minha dissertação de mestrado. Quanto mais eu estudava e pesquisava, mais convicção eu ganhava sobre a importância de educar financeiramente as crianças, compreender as manobras financeiras que existem e ensinar esses conceitos desde cedo.
Ao longo desses anos de experiência, selecionei algumas ações simples que procuro ensinar aos meus alunos e também compartilho com os pais durante as reuniões. Assim, escola e família podem caminhar juntas, ajudando as crianças a desenvolver uma relação mais consciente e equilibrada com o dinheiro e, consequentemente, com a educação financeira.
Vamos a elas?
Tudo tem um custo: Explique ao seu filho que tudo tem um custo. Desde a água que ele bebe, ao suquinho que ele toma, a cama que ele dorme.
Esforço e dedicação: Demonstre quando possível que as coisas para funcionar exigem esforço e dedicação. Dê exemplos: Um prédio para ser construído, uma profissão que se deseja exercer, etc. Tudo deve ser realizado com esforço e dedicação, assim como a profissão que resultará no salário ou rendimento ao final do mês (dinheiro que recebemos para viver).
As diferentes formas de dinheiro: Compartilhe com a criança quais são as formas que existem para adquirir um produto ou um bem:
- Dinheiro em papel moeda
- Cartão (de plástico)
- Cheque
- Troca
Explique que essas formas de pagar as coisas não existem por que vamos ao banco e buscamos. Existem por que vêm do esforço diário dos responsáveis por aquela casa, fruto do trabalho.
Tipos de compensação
Mesada ou semanada: Quando a criança recebe uma mesada é a sua primeira oportunidade de gerir seu próprio dinheiro. Organizar suas compras e começar a poupar são os primeiros passos para ter o dinheiro como aliado. Neste outro post, tratamos também deste assunto.
O caderninho de contas: É uma forma simples de a criança registrar o dinheiro que tem, o que vai receber e o que gastou ao longo das semanas. Com isso, ela aprende a dar mais seriedade ao trato com o dinheiro, desenvolve organização e senso de responsabilidade, além de adquirir educação financeira desde cedo. Além disso, o caderninho possibilita uma visão clara de para onde o dinheiro está indo, ajudando a criança a perceber seus próprios hábitos de consumo.
Não gaste o dinheiro antes de ganhá-lo – planejamento: Ensine seu filho a planejar o que deseja viver, não apenas pensando no amanhã, mas também a longo prazo — uma viagem, um passeio ou um bem que queira adquirir. Dessa forma, ele aprenderá a gastar apenas o que realmente possui, entendendo que o planejamento é o caminho para conquistar o que deseja sem se endividar.
As três perguntinhas essenciais:
- Eu quero?
- Eu preciso?
- Eu tenho dinheiro?
Após responder a essas três perguntas, se todas as respostas forem afirmativas, você pode fazer a compra com tranquilidade.
Além disso, é fundamental ensinar a negociar. Tudo que compramos normalmente oferece uma margem de negociação. Por isso, incentive a criança a fazer perguntas inteligentes, como: “Tem desconto para pagamento à vista?” ou “Se eu levar mais de um produto, o preço melhora?”. Essas pequenas atitudes ajudam a desenvolver consciência financeira e senso crítico desde cedo.
Da mesma forma, é importante ensinar a poupar. Esse hábito beneficia diretamente a própria criança, pois cria o senso de responsabilidade e de planejamento. Explique que ela deve guardar no mínimo 10% de tudo o que receber, sempre. Afinal, alguns sonhos exigem dinheiro para se tornarem realidade, e quando existe planejamento e poupança, temos o “combustível” necessário para realizá-los!
Na próxima semana, vamos conversar sobre o dinheiro na família, educação financeira e orçamento familiar. Espero você!
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