Noite dessas fui jantar na casa de uma pessoa querida – cuja identidade não vem ao caso, por questão de segurança que vocês já vão entender. Lá pelas tantas, a figura me mostra cinco latas de Nescau – sim, o achocolatado – e me manda pegar uma. Me surpreendo com o peso. Dava bem para fazer uma série de musculação. “Abre, vai”, me diz nossa personagem. Quando eu levanto a tampa, está lá, preenchendo o recipiente até a boca, um número que eu não conseguiria adivinhar em moedas de R$ 1. Da mesma forma estão as outras latinhas. “Tem R$ 400 em cada uma. Dois mil Reais no total!”, enumera nossa personagem. Só faltou um exclamativo “eu sou #rycaaaah” pra fechar a frase. Mas melhor não ficar espalhando o saldo por aí, ainda mais com um monte de comerciantes loucos atrás de moedas de R$ 1 – eis a questão de segurança, rs.
Quis saber como se deu aquela pequena fortuna acondicionada em inocentes latas de achocolatado. Restos de troco, com certeza. Mas não só. “Todo dia, deixo notas e pego moedas na lanchonete do trabalho”, ela me diz. O montante foi acumulado em cerca de 12 meses. Me intriguei com aquele método de poupança doméstica: por que trocar notas pelo valor equivalente em moedas? Por que deixar juntar isso tudo, em vez de ir depositando aos poucos as economias no banco? “Eu gosto das minhas moedas”, cravou nossa personagem, com um evidente orgulho da sua “coleção”, que pretende manter até o fim do ano e, depois, depositar na conta corrente. (Imagina a trabalheira para o caixa contar duas mil moedas?)
A mania de fazer um “cofrinho” não é recente. As crianças costumam ser incentivadas a encher porquinhos com os trocados que os pais vão dando e já há um bom tempo os adultos também aderiram ao hábito. É uma maneira de economizar? Sim, isso é fato. Mas mesmo que você entenda quase nada de dinheiro dá para sacar que aquelas moedas que vão sendo acumuladas são, no fundo, um dinheiro que fica parado. O “juntador de moedas” não perde dinheiro, mas, por outro lado, deixa de ganhar.
Vamos às contas, com o auxílio do economista Frederico Torres, que assina as segundas-feiras aqui no Educando Seu Bolso. Se, em vez das latinhas de Nescau nossa personagem tivesse optado pela poupança – o mais simples e também menos rentável dos investimentos –, depositando mês a mês o que juntasse em moedas, agora teria R$ 70 a mais do que os R$ 2 mil. Mas nós já aprendemos que a poupança não é o único caminho, né? Bom, se nossa “Tio Patinhas das latas de achocolatado” tivesse sido um pouco mais ousada, o lucro teria sido bem maior. “Grosso modo, seriam R$ 120 reais de rendimento, considerando aplicação melhor do que a poupança (tesouro direto, LCI, LCA, CDBs ou mesmo bons fundos de investimentos). Ah, e considerando também que ela foi juntando paulatinamente (uma média de R$ 166 por mês) e considerando que ela juntou logo no início do ano e deixou a quantia toda parada durante os 12 meses, os juros aumentam bastante: R$ 230”, explica Frederico Torres.
Um bom “troco” a mais, não? Parece que está na hora de modernizar o porquinho. Que tal fazer diferente em 2015?