“Você precisa aprender inglês,
precisa aprender o que eu sei
e o que eu não sei mais.”
(Caetano Veloso, “Baby”)
Educar filhos não é fácil. E é tarefa para o dia inteiro, o ano inteiro. Tenho uma filha de 10 anos. Companheiríssima, tudo o que fazemos juntos vira festa. Até mesmo uma ida ao supermercado. E aí, claro, aproveito para falar um pouco sobre educação financeira.
Ela já conhece aqueles macetes de que falei semanas atrás. Já sabe que o M&M’s fica a 1 metro de altura do chão justamente para seduzir gente como ela e que a padaria fica lá no fundo para forçar aquela “passada rápida” no supermercado a não ser tão rápida assim.
Recentemente tivemos uma aula prática. Ela sempre gosta quando eu a peço para buscar alguma coisa em uma seção, enquanto estou em outra. Achei que seria uma boa oportunidade para incentivá-la a fazer uma escolha entre várias opções.
– Pai, me fala alguma coisa que eu possa buscar?
– Filha, a gente precisa levar dois pacotes de pão de queijo. O que eu mais gosto é o da marca X, que costuma ser mais caro. Talvez, hoje, esteja muito mais caro do que outros que também são bons, talvez esteja só um pouco mais caro. Você vai decidir. Olhe todas as marcas, as datas de validade, olhe pra “cara” do produto, confira os preços e escolha o que você acha que compensa.
Lá foi ela, pouco depois voltou com dois pacotes de outra marca e botou no carrinho. Sem eu perguntar, me explicou o critério dela. “Alguma dúvida?” – perguntei. “Não”. E ficou assim. Delegar é isso.
Depois, fomos buscar um produto de limpeza. Havia duas opções da marca que eu escolhi: 500 ml e 1 litro. Ela logo concluiu que, se o maior custar menos que o dobro do menor, compensa levar o maior. Eu concordei, fazendo uma ressalva: a embalagem de 1 litro representa menos lixo do que duas de 500 ml. Então, mesmo se o preço apenas empatar, já compensaria comprar a maior, por ser menos poluente.
Me lembrei agora de uma conversa que tivemos semanas atrás. Ela estava assistindo a um desenho chamado Ever After High. Os personagens são filhos de nomes consagrados das histórias infantis – Branca de Neve, Cinderela etc. Quando vi aquilo, já logo adivinhei, perguntei só para confirmar:
– Já tem boneca disso à venda?
– Já, várias! Vou querer uma de Natal.
Aí comecei a explicar que a gente precisa ter atenção, pois essas empresas – os personagens são da Mattel – criam essas coisas para que a criança queira ter várias bonecas, dezenas delas, e que, no final das contas, ela passe a gostar mais de ganhar do que de brincar. E não consegui deixar de falar um pouco sobre a concentração de renda das grandes corporações e a exploração de mão de obra – a política está no sangue, não tem jeito.
Ela ouviu, entendeu, concordou e ficou com uma carinha de pulga atrás da orelha. Mais tarde, me falou, com um ar meio aflito:
– Pai, eu entendi o que você falou. Mas eu continuo querendo a boneca assim mesmo…
Vi que ela queria muito. Sei que é novidade e que as coleguinhas vão ganhar. E, principalmente, sei que a natureza não dá saltos. Educar filhos é o dia inteiro, o ano inteiro. E é muito bacana.
Escute nosso podcast para saber mais sobre educar filhos.