“Eu quero almoço grátis!”
Vai ficar querendo. Não existe almoço grátis, ainda mais no mercado financeiro. Juro zero, então, nem pensar. Hoje vou tentar te mostrar isto de algumas formas e espero que, daqui em diante, você só caia nesta armadilha se quiser mesmo ser enganado. Tem gente que gosta – não é o meu caso.
Para começar, um raciocínio rápido: se a poupança, com risco baixíssimo, está pagando pouco mais de 0,5% ao mês, por que em sã consciência um comerciante ou, pior, um banqueiro (que vive de fazer dinheiro nas costas dos outros) te emprestaria (financiaria), a custo zero, sendo que o risco de você não pagar é substancialmente maior do que de um calote da caderneta de poupança?
Se a pergunta anterior não foi suficiente para você perceber que, de alguma forma, os juros de qualquer financiamento lhe serão cobrados, vou tentar colocar mais minhocas em sua cabeça para que você tente descobrir como estão te cobrando os juros que – dizem – é “zero”. Olha seu “almoço grátis” aí…
Acabando com o mito do almoço grátis
O mais elementar: tente pagar à vista em dinheiro. Teve desconto? Bingo! Olha os juros embutidos aí no preço majorado! Se você teve 5% de desconto ao pagar à vista, então o comerciante está te cobrando estes 5% de juros embutidos. Acho que esta é fácil perceber que o almoço grátis não foi tão grátis assim, correto?
Mesmo que não vá pagar à vista, vale sempre a pena perguntar para saber quanto está sendo cobrado a mais. Quanto mais informações, quanto mais subsídios você tiver em mãos, com as ferramentas adequadas você terá condições de negociar melhor.
Outra forma de embutir juros é na taxa de avaliação de crédito (ou que nome queiram dar ao preço que te cobram – ou querem te cobrar – para analisar se vão ou não te dar o financiamento de, por exemplo, um carro). Esta é mais difícil saber quanto estão te cobrando, afinal esta avaliação realmente tem algum custo para a instituição.
Uma certeza nisso você pode ter
Mas não tenha dúvidas: o preço que estão te cobrando engloba custos, lucro e até alguma taxa de juros embutida. Uma forma de tentar descobrir (que nem sempre funciona, mas não custa tentar), é perguntar quanto custa a taxa caso financie algo, digamos, de R$ 10.000,00 ou outro bem de R$ 50.000,00.
Neste caso, subtraia a diferença de custos e tenha uma ideia (isso é uma estimativa, não é preciso, porque podem haver realmente custos maiores para avaliações de maior monta) de quanto estão te cobrando sobre, no caso, R$ 40.000,00 (R$ 50.000,00 menos R$ 10.000,00).
A tabela abaixo tenta ilustrar o que estou falando supondo que a taxa de avaliação de crédito no primeiro caso é de R$ 200,00 e no segundo caso R$ 300,00. A diferença entre as taxas (R$ 100,00) é referente a aproximadamente os juros embutidos.
Bem 1 | Bem 2 | Diferença | |
Valor | 10.000,00 | 50.000,00 | 40.000,00 |
Taxa | 200,00 | 300,00 | 100,00 |
Dica interessante!
Sugestão: pergunte primeiro a taxa do bem mais barato. Se o comerciante disser que a taxa é a mesma, pelo menos essa diferença ficará a seu favor. Isto é, se existir diferença…
Existem outras formas um pouco mais complexas de camuflar a taxa de juros, sempre resultando em maior desembolso para você. Mas o importante é que você tenha sempre a certeza de que se há prazo, há cobrança de juros. Certo? Obrigado e até a próxima.
Escute nosso podcast para saber mais sobre esse tal “Juros zero”.
(Publicado com adaptações também em http://dinheirama.com/blog/2014/03/13/eu-quero-almoco-gratis-juro-zero/)