Retrospectiva – Ricos do jeito errado (1ª parte)
No meu último artigo, “Estamos tentando ficar ricos do jeito errado“, argumentei que o brasileiro direciona mal o pouco tempo que gasta com suas finanças, dando mais importância à análise dos investimentos enquanto deveria prestar mais atenção ao gerenciamento de suas dívidas.
Ou seja, usando dados do Banco Central e algumas aproximações, sugeri que os milhões de brasileiros com financiamentos de maior valor — como os imobiliários e de veículos — têm patrimônio financeiro líquido negativo, já que, em média, o valor de suas aplicações é menor que o de suas dívidas. Por isso, concluí que, pelo menos para esse grupo, a melhor forma de começar a ficar rico é gerenciar melhor as dívidas. Em outras palavras, é fundamental pesquisar e comparar para conseguir o menor custo financeiro possível.
Desenhando o que disse
Por isso, terminei o artigo anterior insistindo na tese de que estamos tentando ficar ricos do jeito errado. Perguntei se alguém tinha uma boa explicação para o que chamei de foco excessivo nas aplicações financeiras. Algumas pessoas me responderam dizendo que gostaram da análise e que achavam o argumento válido, mas apenas para este grupo de pessoas que tem dívidas maiores. Diante disso, isso me motivou a pensar no caso dos demais endividados, como, por exemplo, o João, que deve R$ 4.000,00 no cartão de crédito; a Maria, que deve R$ 8.000,00 no crédito pessoal; e a Olga, que deve R$ 6.000,00 no cheque especial.
Com base nisso, mais uma vez, utilizando as taxas de juros do Banco Central (Bacen), complementadas pelas do banco no qual sou correntista (para o cartão de crédito, já que o Bacen não disponibiliza tais dados), fiz a tabela abaixo com um único objetivo: calcular quanto os três cidadãos acima teriam que ter em aplicações financeiras para compensar os juros devidos nas dívidas. Pois bem, vejam vocês que, mesmo nesses três casos, com dívidas bem menores e mais comuns, seria necessário que todos eles tivessem entre R$ 70.000,00 e R$ 80.000,00 aplicados para gerar o mesmo valor em juros que lhes é cobrado nas dívidas.
Tabela comparativa
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Em R$ | |||
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Cartão de Crédito |
Crédito Pessoal |
Cheque especial | |
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Dívida |
R$4.000,00 |
R$8.000,00 |
R$6.000,00 |
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Taxa de juros a.m. |
11.5% |
5.3% |
7.8% |
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Juros |
R$460,00 |
R$424,00 |
R$468,00 |
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CDI Nov/13 (Líq. IR a 15%) |
0,6035% |
0,6035% |
0,6035% |
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Aplicação financeira que rendendo Selic geraria os mesmos juros da dívida |
R$76.222,00 |
R$70.257,00 |
R$77.548,00 |
| Fonte das taxas de juros Crédito Pessoal e Cheque Especial: Banco Central. Para o Cartão de Crédito, como o Bacen não divulga taxas médias, ou seja usei as taxas do banco no qual possuo conta | |||
Por fim, pensando no cidadão comum brasileiro hoje, pergunto: quantos têm mais de R$ 70.000,00 em aplicações financeiras? Segundo dados do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), muito poucos. Além disso, podemos ir ainda mais longe e imaginar que, provavelmente, esses milhões de pessoas endividadas com cartão de crédito, cheque especial e crédito pessoal têm reservas financeiras ainda menores — isso se tiverem alguma.
Em outras palavras, se elas não têm mais de R$ 70.000,00 aplicados, estão pagando mais juros do que recebem. Portanto, vale para elas também a crítica que fiz no artigo anterior.
Resumindo
Agradeço àqueles que questionaram meu artigo anterior, pois, ao me fazerem refletir sobre outros casos, reforçaram ainda mais minha percepção de que estamos tentando ficar ricos da forma errada. No fim das contas, é com a boa gestão das dívidas que o brasileiro comum realmente deveria se preocupar. Sendo assim, pergunto: você já pesquisou se a dívida que tem é a melhor que poderia ter? Já comparou as taxas? Vale a pena pensar nisso…
(Publicado também em http://dinheirama.com/blog/2014/01/27/ficar-rico-jeito-errado-parte2/)