No início de outubro deste ano, o Banco Central injetou alguns anabolizantes para fortalecer o já musculoso crédito consignado. Até setembro, o prazo máximo de contratação dessa modalidade era de cinco anos, limitação válida para créditos contratados tanto pelos aposentados do INSS quanto pelos servidores públicos federais. Os prazos foram esticados para seis anos, no caso do primeiro grupo, e espantosos oito anos para o último.
O lado bom da medida é que esse alongamento de prazos pode diminuir o peso da dívida no comprometimento da renda mensal. Na comparação com as regras antigas, ao tomar crédito sob essas novas condições, os aposentados terão que carregar menos peso, uma redução de cerca de 8% na prestação, enquanto os servidores públicos terão um alívio ainda maior na carga, de quase 15%.
O outro lado da moeda é que essas medidas abrem espaço para mais endividamento, desde que seja atendida a restrição já existente de comprometimento máximo de 30% da renda com o pagamento da dívida. Além de alongar o prazo, o devedor poderá, na prática, aumentar o valor contratado de forma que a prestação volte a ficar próxima ao limite de 30% de sua renda, o que já deve ser bem salgado pro seu orçamento. Suponha que um empréstimo com o prazo de cinco anos contratado no finalzinho de setembro resultasse numa prestação que atingisse o máximo de 30% da margem consignável; se fosse tomado agora, dias depois, com o novo prazo de seis anos, os aposentados podem contratar um crédito até 8,8% maior sem estourar sua margem. E no caso dos servidores públicos, essa grana extra pode ser de 17% se tomado com os oito anos de vencimento!
Outro efeito ruim dessas medidas é que o devedor ficará mais tempo aprisionado à dívida: se antes a “independência do banco da esquina” durava longos cinco anos para ser conquistada, agora pode durar até oito!
Ao que parece, o povo quer mesmo é puxar mais peso: mal mal essas regras entraram em vigor no início do mês e o consignado já está bombando de novo! Em matéria publicada no Valor dessa semana, executivos de bancos estimaram que as contratações de consignado feitas por esses dois segmentos devem crescer mais de 10% em 2014, uma baita expansão, já que no acumulado até agosto, os novos desembolsos haviam crescido apenas 1,4% na comparação com mesmo período do ano anterior. Entretanto, cuidado, marombeiros: a hipertrofia na dívida de hoje pode, no futuro, contribuir para uma lesão grave no seu bolso.