
A Carla sempre sonhou em fazer um procedimento estético, mas nunca conseguia juntar o valor à vista. Quando ouviu falar de um consórcio para cirurgias plásticas achou que era a chance de realizar o desejo sem se enrolar em juros de financiamento ou de empréstimo. Ela só precisava pagar as parcelas mensais e esperar ser contemplada, afinal já tinha esperado tanto.
O que antes parecia restrito a carros e imóveis agora se espalhou por quase tudo. Viagem, festa, celular, cirurgia, tratamento odontológico e até implante capilar. O mercado de consórcios se reinventou para atender sonhos de consumo cada vez mais diversos. Mas será que entrar em um consórcio é realmente o caminho mais inteligente para bancar esses planos?
O que é um consórcio?
O consórcio nada mais é do que uma forma coletiva de adquirir um bem parcelado. Funciona como aquela vaquinha entre amigos, só que organizada e gerida por uma empresa especializada, que chamamos de administradora.
A administradora libera as cartas de crédito, que correspondem ao valor total da compra, para quem é sorteado ou oferece um lance a medida que os participantes vão pagando sua parte todo mês.
A grande sacada é que não existe cobrança de juros, diferente do financiamento. Mas isso não significa que sai de graça: entram na conta taxas de administração, fundo de reserva, seguros e, em alguns casos, taxa de adesão. Por isso, é sempre bom olhar o contrato com calma antes de entrar nessa.
Diferença entre consórcio e financiamento
A premissa dos dois é a mesma: você paga parcelas para conseguir comprar algo que não tem grana à vista. Mas, na prática, o funcionamento é bem diferente. No financiamento, o banco te empresta o dinheiro na hora. Você já sai com a chave do carro ou da casa, mas assume uma dívida com juros durante anos e eles pesam bastante no bolso.
No consórcio, você e o resto do seu grupo também pagam parcelas mensais, mas para ter o dinheiro em mãos, é um de cada vez. A cada mês, alguns participantes são contemplados (por sorteio ou lance tipo leilão) e recebem a carta de crédito. Ou seja: pode demorar até você ser escolhido, mas quando isso acontece, compra o bem à vista e sem juros.
As vantagens que seduzem os consumidores
Muita gente que tem pavor de financiamento, acha o consórcio vantajoso. E na teoria, a ausência dos juros faz brilhar os olhos, mas na prática é bem diferente.
Planejamento forçado (para quem tem dificuldade de poupar)
Sabe aquela pessoa que promete guardar dinheiro todo mês, mas acaba gastando antes de sobrar? Se você funciona assim, o consórcio pode ser uma espécie de “cofrinho coletivo” obrigatório.
O contrato e o boleto obrigam o consumidor a manter a disciplina. Para muitos, infelizmente esse é o único jeito de realmente juntar a grana para conquistar um bem maior.
No fim, se você tiver disciplina para guardar e investir, seu dinheiro vai render muito mais fora do consórcio. Afinal, consórcio não é investimento, já que você não tem controle sobre o resgate.
A chance do sorteio
Outro “pseudo atrativo” é a possibilidade de ser contemplado logo no começo, por sorteio. Imagine entrar em um consórcio de 60 meses e ser sorteado já no terceiro: você recebe a carta de crédito, compra o que queria e continua pagando as parcelas normalmente.
Essa chance de antecipar o sonho sem pagar juros é um dos ganchos que mais seduzem os consumidores, mas a verdade é que a probabilidade de isso acontecer é pequena. Na prática, muita gente paga por anos sem ser sorteada e só recebe a carta de crédito no fim do plano. Como sempre dizemos, não dá para contar com a sorte como estratégia.
Os novos consórcios
O consórcio é coisa nossa, nasceu no Brasil lá nos anos 60, quando funcionários do Banco do Brasil se juntaram para comprar carros sem encarar os juros salgados dos bancos. E o que nasceu como uma “vaquinha entre colegas de trabalho”, se transformou em um dos instrumentos financeiros mais populares entre os brasileiros.
Não à toa, o último relatório do Banco Central, registrou um aumento de quase 21% no segmento dos consórcios, tendo R$121,8 bilhões depositados. Acontece que, durante décadas, o consórcio ficou praticamente restrito a carros e imóveis, os sonhos clássicos da classe média. Mas, de uns anos pra cá, o mercado abriu o leque: hoje dá pra fazer consórcio de cirurgia plástica, moto, celular, eletrodoméstico e até de viagem ou festa.
Consórcio de cirurgia plástica
No Brasil, país das plásticas, cada vez mais a galera está descobrindo que dá para realizar aquele sonho estético mesmo sem ter o dinheiro guardado (e às vezes até com o nome sujo). Há depoimentos de pessoas fazendo consórcio entre amigos e até reaproveitando cartas de crédito de consórcios de veículos.
Nem precisa disso tudo, bancos como Bradesco e Sicoob já oferecem linhas de crédito e financiamento para cirurgia plástica. Pra quem prefere o consórcio, administradoras também oferecem cartas de crédito específicas para cirurgia plástica, que variam entre R$20 mil a R$40 mil e com pagamento de até 18 meses. E a verdade é: não faltam jeitos criativos de bancar a mamoplastia e a lipoescultura.
Mas é claro que esse processo todo, assim como uma cirurgia, tem fatores de risco e pontos de atenção. O artigo 72 do Código de Ética Médica diz que, embora seja permitido oferecer opções facilitadas de pagamento, isso deve acontecer por meio do médico ou consultório, jamais por atravessadores ou empresas terceiras.
Vale a pena fazer um consórcio de cirurgia plástica?
A resposta depende do seu perfil. Se você é do tipo paciente (literalmente) mas não consegue manter uma disciplina financeira para guardar o dinheiro em outro lugar, pode ser uma forma de realizar aquele procedimento sem se afogar em juros.
Mas nem tudo é glamour, o sorteio na maioria das vezes demora e a administradora (e o médico) precisam ser confiáveis. Ultimamente, a facilidade de parcelar ou financiar cirurgias plásticas têm revelado um lado que nem sempre aparece de primeira: a banalização dos procedimentos. Quando a estética se torna “produto de consumo”, existe o risco de as pessoas enxergarem a cirurgia como algo trivial, sem medir os riscos reais à saúde tanto do corpo quanto do bolso.
Quando faz sentido entrar em um consórcio?
O consórcio não é uma solução mágica, e ele funciona melhor quando você sabe o que está fazendo e tem paciência. Se você é alguém que não precisa do bem ou serviço imediatamente e está disposto a esperar sua vez, o consórcio pode ser uma boa opção. Ele força a disciplina, evita juros altos e ainda permite planejar compras grandes sem entrar no vermelho.
Por outro lado, é preciso entender que o consórcio só vai valer a pena se você for contemplado cedo. Mas isso acontece com estratégia, através dos lances. Na prática, há maneiras para antecipar a contemplação, mesmo que você não tenha o dinheiro disponível para dar um lance alto na hora, por isso é importante ter uma boa administradora, um bom conhecimento do funcionamento do consórcio e um bom gerente.
No fim, tudo vai depender da sua realidade financeira. Se você é do time dos não disciplinados, vai funcionar como poupança forçada e, nesse sentido, também pode valer a pena.
Conclusão: consórcio para tudo… mas não para todo mundo
O consórcio se reinventou e hoje é possível encontrar planos para praticamente qualquer coisa: carro, casa, viagem, festa e até cirurgia plástica. Ele pode ser uma ferramenta para quem sabe planejar, manter disciplina financeira e fazer a estratégia certa para ser sorteado antes.
A verdade é que ele já foi um verdadeiro herói das grandes compras. Mas hoje em dia, com tantas opções financeiras (do financiamento tradicional às linhas de crédito e investimentos acessíveis) ele está ressurgindo porque as taxas de juros de financiamentos estão muito altas. Mas ainda assim, dá para encontrar alternativas mais rápidas, flexíveis e até mais vantajosas.
Ou seja, o consórcio continua popular, mas não é mais a única saída. Planejamento, disciplina e comparação de opções são o que realmente ajudam a conquistar seus objetivos sem dor de cabeça. No fim das contas, quem sabe pesquisar e escolher com inteligência sempre leva vantagem.