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Ifood Pago, o novo banco do Ifood

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Pedir comida por aplicativo já virou rotina. Em dias corridos, ele salva. Em dias preguiçosos, ele reina. Porém, o problema começa quando algo que deveria ser simples vira uma armadilha financeira disfarçada de facilidade.

Nos últimos tempos, o iFood vem investindo pesado no iFood Pago, ampliando serviços financeiros e além disso, incentivando formas de pagamento como parcelamento, crédito e o famoso “pague depois”. A promessa é conveniência. A realidade, para o consumidor, é outra história.

Quando surgiu o Ifood Pago?

O iFood Pago surgiu em meados de 2023 e começou a tomar forma quando o iFood decidiu organizar melhor os pagamentos dentro da própria plataforma. A ideia inicial não era virar banco nem oferecer crédito para o consumidor final, mas centralizar repasses, recebimentos e transações de restaurantes e entregadores.

De lá pra cá, a empresa focou em conceder créditos para os restaurantes da plataforma e já tem 175 mil contas digitais ativas e já concedeu R$2,83 bilhões para mais de 67 mil estabelecimentos. Hoje, o Ifood Pago é uma plataforma financeira, com carteira digital disponível para os donos de restaurantes. E mais recentemente, estão oferecendo opções de crédito para pessoas físicas com o “pague depois”, sempre com foco em facilitar o consumo dentro do próprio aplicativo.

Como funciona o Ifood Pago para consumidores?

Tirando o foco dos restaurantes, vamos falar sobre as novidades. O CEO da Ifood Pago, Bruno Henriques, afirma que quer ser “a ponte para ele [o cliente] consumir”, com o argumento de que falta dinheiro no fim do mês.

O consumidor pode concentrar pagamentos no próprio app, cartão de crédito digital. Agora, estão testando opções como pagamento depois da compra, inicialmente para compras de mercado. Tudo acontece de forma integrada, sem precisar sair do iFood ou passar por outro aplicativo financeiro.

O crédito “Buy Now Pay Later” ainda está em fase de testes e foi liberado para cerca de 100 mil usuários, oferecendo microcrédito entre R$50 e R$100 para compras de mercado e farmácia, com prazos de pagamento de 15, 30 e 45 dias. Mas a previsão é expandir. Ainda não temos informação sobre o critério para liberação do crédito e qual a taxa de juros.

Na prática, a proposta é reduzir qualquer barreira entre vontade e consumo. Quanto mais simples fica pagar, menos tempo a pessoa tem para pensar se aquele pedido realmente cabe no orçamento. O pagamento vira quase automático, e é justamente essa “comodidade” que levanta o alerta: facilitar demais o gasto e oferecer crédito para algo imediato como comida só incentiva o consumo por impulso.

O problema não é pedir comida. É financiar o prato.

Antes de tudo, um combinado justo, não existe vilão em pedir comida. O problema não é o hambúrguer, a pizza ou o poke. O problema é transformar um gasto cotidiano, recorrente e de baixo valor em dívida futura.

Quando você parcela um celular, um curso ou até um eletrodoméstico, existe uma lógica, é algo durável, que você vai usar por meses ou anos. Agora pensa comigo: o que sobra de uma pizza financiada depois de 20 minutos?

Nada. Só a fatura. Funciona tecnicamente, mas financeiramente é um desastre silencioso.

O objetivo não é te ajudar. É te fazer consumir mais.

Agora vamos aos fatos. Nenhuma grande plataforma cria crédito por bondade. O iFood não quer resolver sua vida financeira. Ele quer aumentar a frequência de pedidos, reduzir a ideia do “não dá hoje” e transformar desejo em consumo imediato

Quando pagar depois vira opção, o cérebro entende que você não precisa decidir agora, só clicar. Isso não é educação financeira. É engenharia de comportamento. Quanto menos você sente o peso do dinheiro saindo, mais você consome. E isso é ótimo para o aplicativo. Só não é ótimo para você.

Crédito fácil para gasto recorrente é receita para endividamento

O Brasil já enfrenta um cenário preocupante de superendividamento e oferta excessiva de crédito. Adicionar comida nessa equação é tacar fogo em gasolina. Afinal, estamos falando de um tipo de gasto que acontece toda semana, às vezes todo dia, e que deveria caber no orçamento do mês, não virar dívida futura.

A comida por delivery costuma ser um gasto frequente, emocional e impulsivo, muitas vezes motivado pelo cansaço, pelo estresse ou pela falta de tempo. Ao oferecer crédito fácil para esse tipo de consumo, cria-se um ciclo perigoso de endividamento: a pessoa pede comida porque está cansada, escolhe pagar depois porque acha que “merece”, repete esse comportamento ao longo do mês e, quando percebe, a fatura do cartão de crédito aumenta, o dinheiro aperta e o estresse financeiro cresce. 

O resultado é um looping que beneficia quem vende, mas pesa cada vez mais no bolso de quem consome.

Conclusão: praticidade para eles, risco para você

O iFood Pago pode até se apresentar como inovação financeira, mas, para o consumidor, a proposta merece cautela. Transformar comida em algo parcelável ou “pagar depois” não resolve a falta de dinheiro no fim do mês, só empurra o problema para a fatura seguinte. Conveniência sem consciência financeira costuma sair caro, principalmente quando envolve gastos frequentes, emocionais e impulsivos.

No fim das contas, o iFood está fazendo o que toda grande plataforma faz: criando caminhos para estimular mais consumo dentro do próprio ecossistema. Cabe ao consumidor fazer o movimento oposto. Usar delivery quando faz sentido, pagar à vista sempre que possível e lembrar que limite não é renda. Porque o jantar de ontem já foi embora, mas a dívida fica. E educação financeira começa justamente em saber separar facilidade de armadilha.

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