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Crédito para comprar moto: o governo promete o céu, mas será que entrega gasolina?

João, motoboy das antigas, já se acostumou a empurrar a motoca mais do que deveria. A cada arrancada, sai tanta fumaça que parece até estar inaugurando uma nova churrascaria. De repente, ele abre o celular e vê: “Governo lança crédito especial para comprar moto elétrica”. O coração dispara: “É agora que eu viro Tesla das entregas”.

Mas calma, João. Até porque se tem uma coisa que brasileiro aprende cedo é que, quando o governo fala em “crédito especial”, por isso é bom conferir a letrinha miúda. Spoiler: a conta pode não fechar tão fácil assim.

O que o governo anda prometendo?

Em junho de 2025, Lula anunciou um programa para financiar motos elétricas para entregadores de aplicativo. A ideia é dar crédito com juros “mais baixos” e prazo “mais longo”.

No discurso, é uma tacada tripla:

  • ajuda o trabalhador que precisa da moto para ganhar a vida;
  • troca as motos fumaça por veículos “limpos”;
  • e ainda dá uma força para a indústria nacional.

Parece comercial de margarina, né? Todo mundo feliz na foto. Só que o problema não está na foto, e sim na fatura.

Quem pode pegar o crédito para comprar moto?

O público-alvo são entregadores de aplicativo, tanto os que têm CNPJ quanto os que só rodam na informalidade. Nesse sentido, o governo disse que os bancos públicos vão oferecer o crédito.

O problema é que, aí já dá para imaginar: fila, carimbo, declaração, comprovante, autenticação em cartório… Enquanto isso, o motoboy continua rodando com a moto que só anda se tiver fé.

Por isso, se os bancos privados não entrarem no jogo, o programa vira mais um daqueles que existem “no papel”, mas não chegam na vida real de quem precisa de rapidez para rodar.

Por que os bancos não gostaram da ideia?

Porque o banco não é ONG. O setor já reclamou de duas coisas:

  1. Só moto elétrica? Parece incentivo bonito, mas na prática exclui quem só tem bolso para moto a combustão (que custa quase a metade).
  2. Só banco público? Isso espanta os privados, que já oferecem crédito para moto. Claro, com taxas de doer, mas pelo menos existe opção.

Por fim, um empresário do setor resumiu: “o crédito precisa ser para todo tipo de moto”. E ele não está errado. Porque forçar todo mundo para o elétrico pode ser bom para a propaganda, mas ruim para o bolso do trabalhador.

Vale a pena financiar para comprar moto?

Olha, pode até valer, mas só se três condições baterem:

  • juros realmente menores que os do mercado;
  • parcela cabendo dentro de 30% da renda;
  • moto sendo usada como ferramenta de trabalho, e não como presente de Natal adiantado.

O problema é que hoje as taxas dos financiamentos de motocicletas ultrapassam 40% a.a. ao ano. Se o “especial” for só um nome bonito, o entregador vai trocar a moto velha pelo boleto atrasado.

E os produtores rurais?

Eles já têm o Pronaf, que financia motos utilitárias com condições melhores. Se o programa novo vai valer para eles também? Até agora, ninguém do governo tocou no assunto, mais uma vez: falta clareza.

Moto elétrica: economia ou dor de cabeça?

O lado bom:

  • manutenção mais barata (é o que prometem),
  • não gastar no posto (um alívio para quem vê a gasolina virar artigo de luxo),
  • isenção de impostos em algumas cidades.

O lado ruim:

  • infraestrutura de recarga quase inexistente,
  • autonomia baixa (imagina o hambúrguer esfriando enquanto você procura tomada),
  • valor de revenda incerto, ninguém quer ser o primeiro a descobrir que a moto virou “moto de colecionador” porque ninguém mais compra.

No fim, pode compensar para alguns. Mas para muitos, a moto a combustão segue sendo a escolha mais lógica.

Melhor mês para comprar moto?

Dezembro e janeiro, quando a concessionária precisa bater meta e joga os descontos na mesa. Mas, com esse programa do governo, pode aparecer pressão extra para empurrar moto elétrica em qualquer época do ano. E aí, cuidado para não cair em “promoção” que só muda o adesivo, mas a parcela continua do mesmo tamanho.

Quanto custa uma moto hoje?

  • Motos de entrada (combustão): Honda Biz, Yamaha Factor… entre R$10 mil e R$15 mil.
  • Motos elétricas: entre R$18 mil e R$25 mil.

Por enquanto, a elétrica é o iPhone do mundo das motos: bonita, moderna, mas quase o dobro do preço.

Valor da moto elétrica

Shineray SE3 (R$ 11.990)

Tipo: Scooter elétrica

Potência: 2.000W (cerca de 2,7 cv)

Velocidade máxima: 59 km/h

Autonomia: até 80 km

Bateria: não removível

Fabricante: Shineray (produção no Brasil)

A Shineray SE3 é uma das opções mais acessíveis de scooter elétrica no mercado nacional.

Voltz EV1 Sport (R$ 15.890) 

Tipo: Scooter elétrica

Potência: até 4.500W (aprox. 6,1 cv)

Velocidade máxima: 75 km/h

Autonomia: 100 km (uma bateria); 180 km (duas baterias)

Baterias: removíveis

Fabricante: Voltz

Possibilidade de usar duas baterias, o que pode elevar a autonomia para até 180 km.

Watts WS120 (R$ 16.990)

Tipo: Scooter elétrica

Potência: 3.000W (cerca de 4 cv)

Velocidade máxima: 70 km/h

Autonomia: 60 km (120 km com duas baterias)

Baterias: removíveis

Fabricante: Watts

É mais compacta e chama atenção pelo visual.

Shineray SHE-S (R$ 19.290)

Tipo: Moto elétrica estilo street

Potência: 3.000W (aprox. 4 cv)

Velocidade máxima: 75,5 km/h

Autonomia: 80 km (por bateria removível)

Bateria: removível

Fabricante: Shinera

Bem parecida com as motos streets.

Voltz EVS (R$ 20.390)

Tipo: Moto elétrica estilo street

Potência: 7.000W (cerca de 9,5 cv)

Velocidade máxima: 120 km/h

Autonomia: 120 km (uma bateria); 180 km (duas baterias)

Baterias: removíveis

Fabricante: Voltz

A mais rápida e potente entre todas.

Conclusão: escada ou armadilha para comprar moto?

O programa pode até ajudar muita gente a sair da moto que vive pedindo arrego. Mas não caia no conto do “crédito fácil”. Crédito barato não é crédito grátis.

Antes de assinar qualquer contrato, faça a conta: quanto vai rodar? Quanto vai economizar? E por fim,  se a parcela cabe no bolso sem transformar o fim do mês em pesadelo.

Seja moto elétrica, a combustão ou até usada: o que importa é que a escolha não te prenda no banco. Ou seja, o anúncio tem cheiro de campanha política… Na prática, pode até ajudar, mas também pode virar só mais um programa “de vitrine”, lindo no jornal, complicado na prática. E lembre-se: não existe moto grátis. Existe uma parcela, e ela não falha.

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