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Ficar pobre é pior do que morrer? Os telespectadores de Vale Tudo acham que sim 

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No Brasil, as novelas atuam como um espelho que revela os nossos maiores medos. No remake da clássica Vale Tudo, originalmente exibida em 1988, a pergunta sobre o destino da vilã Odete Roitman acende uma questão: o que assusta mais, a morte ou a falência? 

Quase metade dos entrevistados disse à uma pesquisa do Datafolha que prefere ver Odete punida com a pobreza. Por outro lado, 4% deseja o fim trágico da personagem. O detalhe curioso é que, no fundo, a resposta não fala só da ficção. Mas sim da forma como encaramos dinheiro, status e castigo em um país onde o bolso costuma ser mais frágil que o coração.

Imagem fictícia da Odete Roitman de Vale Tudo sentada na calçada, com roupas velhas e segurando um copo de metal, em cenário que transmite vulnerabilidade e pobreza.
Imagem fictícia da Odete Roitman de Vale Tudo sentada na calçada, com roupas velhas e segurando um
copo de metal, em cenário que transmite vulnerabilidade e pobreza.

O que significa ficar pobre? 

Antes de tudo, é preciso entender a que pobreza estamos nos referindo quando falamos de “Vale Tudo”. Empresária bilionária, Odete Roitman despreza tudo que foge do seu mundo de riqueza. Em outras palavras, ela tem nojo das pessoas humildes. Além disso, ela se beneficia de uma sociedade em que dinheiro é sinônimo de poder e influência. Portanto, perder dinheiro também significa perder o status, o conforto e, claro, a relevância social. 

No Brasil em que vivemos, ficar pobre não é só sobre pegar o ônibus ao invés de pedir um Uber Black. É sobre enfrentar um sistema em que a pobreza significa exclusão, perda de voz e, muitas vezes, até de dignidade. E o triste é pensar que para boa parte da população, ser pobre não é coisa de um episódio, é uma realidade diária com barreiras que vão da falta de oportunidades até o preconceito. 

O peso da pobreza no imaginário brasileiro

Um ponto importante é que a discussão sobre pobreza vai muito além da falta de dinheiro no bolso. O que significa isso dentro da sociedade? Desde crianças aprendemos a associar riqueza a mérito e dignidade, enquanto a pobreza é retratada como falha, castigo ou, no máximo, obstáculo a ser superado. Não por acaso, em tantas novelas, o “ficar pobre” é a punição suprema dos vilões, sendo mais dolorosa que a cadeia e mais definitiva que a morte.

No fundo, a pobreza é vista como um destino de invisibilidade, onde o indivíduo perde não só o poder de consumo, mas também o respeito e a posição social. Assim, a escolha do público para o fim de Vale Tudo não fala apenas da trama da novela. Também revela uma verdade incômoda: na nossa cultura, a morte encerra a história, mas a pobreza continua todos os dias. 

Por que o bolso dói mais que a bala? 

Na vida real, perder dinheiro não significa apenas deixar de viver no luxo, pode significar endividamento e noites em claro, prejudicando a autoestima e o bem-estar. Cada boleto vencido, cada cartão estourado e cada ligação de cobrança funcionam como lembretes diários de que o controle escapou. 

Ter dinheiro para pagar as contas em dia, garantir o básico e, se possível, poupar um pouco, é visto como sinônimo de “estar bem”. E quando isso vai embora, não é só o patrimônio que se perde, vai junto a sensação de segurança. Talvez seja por isso que, na ficção, a plateia enxerga a pobreza como punição mais cruel que a própria morte.

O que Vale Tudo nos ensina sobre dinheiro?

A novela em si já é um grande questionamento sobre nossa relação com a ética e a riqueza. A trama original surgiu a partir de uma conversa do autor com o irmão, que afirmou que no Brasil, “era impossível ficar rico por meios louváveis”. Sendo assim, a história retrata desigualdades sociais, é recheada de corrupção, trapaças e a pergunta que não cala: vale tudo por dinheiro e status? 

Na novela, Odete e Marco Aurélio ficam ricos através de golpes, Maria de Fátima engana tudo e todos e Raquel segue lutando e trabalhando. Todos querem o mesmo: ascensão social. Em todos os núcleos temáticos o dinheiro aparece não só como objetivo final, mas como medida de caráter. Na prática, Vale Tudo ensina que a relação do brasileiro com o dinheiro é sempre ambígua: desejamos riqueza, condenamos a ganância e, ao mesmo tempo, tememos a pobreza como se fosse a pior das condenações.

Mas o que todo especialista em finanças pessoais já sabe (e você precisa aprender para ontem) é que não precisa ser assim. Ter uma relação mais saudável com as finanças significa enxergar o dinheiro não como medida de valor pessoal, mas como ferramenta de liberdade e segurança. Cuidar do orçamento, planejar o futuro e respeitar os próprios limites pode ser menos glamouroso do que ostentar, mas é o que garante autonomia diante das incertezas.

Conclusão: ficar pobre é pior do que morrer?

A escolha do público em Vale Tudo, de preferir ver Odete Roitman empobrecer do que morrer com um tiro misterioso, não é apenas uma curiosidade de novela. É um reflexo de como a insegurança financeira pode marcar nossa vida.

Quando o público prefere ver Odete Roitman falida em vez de morta, a escolha revela algo sobre a maioria de nós: a vida, mesmo em ruína, ainda é considerada um castigo maior. Não porque seja pior existir do que morrer, mas porque, nesse imaginário coletivo, viver sem dinheiro equivale a viver sem prestígio, poder e sem identidade. 

No fim das contas, o que essa narrativa mostra é a urgência de repensar nossa relação com o dinheiro. Planejar, economizar e investir não é apenas acumular riqueza, mas garantir autonomia e dignidade. 

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