Search
Search

INSS: fraude, confusão e muito dinheiro em jogo

Dona Maria, 72 anos, aposentada, café coado no coador de pano e aquele pãozinho com manteiga na mesa. Ela abre o extrato do benefício do INSS e leva um susto: o valor caiu menor do que de costume. Pensou logo: “será que a padaria aumentou de novo ou fui eu que perdi alguma conta?”.

Depois de muito olhar e reler, percebeu descontos que nunca tinha autorizado. Foi atrás, contestou e pediu reembolso. Mas, em vez de solução, o que encontrou foram obstáculos. Ligações suspeitas, promessas de empréstimos milagrosos e aquela sensação de estar em um labirinto. Essa confusão não aconteceu só com Dona Maria, milhões de aposentados e pensionistas passam pelo mesmo.

Então é aqui que começa a novela do INSS: fraudes bilionárias, monopólio de pagamento, polêmicas com bancos e financeiras… e, claro, muito aperto no bolso de quem já conta cada centavo.

O golpe bilionário do INSS

Em abril de 2025, o Brasil acordou com um escândalo: a Polícia Federal deflagrou a Operação Sem Desconto, revelando um golpe bilionário dentro do INSS.

O esquema era o seguinte: associações fantasmas ou sem autorização inseriam descontos diretamente na folha de pagamento dos aposentados. Sem pedir autorização, sem contrato, sem nada. Só a surpresa no extrato. Resultado? Mais de 5 milhões de beneficiários tiveram seus pagamentos reduzidos.

Então, para tentar reparar o estrago, uma Medida Provisória promete devolver R$3,31 bilhões aos prejudicados. Mas como tudo no Brasil, o caminho não é exatamente rápido nem fácil.

Como saber se tenho direito à indenização do INSS?

O processo é simples:

  1. Entrar no site meu.inss.gov.br ou no aplicativo Meu INSS.
  2. Clicar em “Consultar Descontos de Entidades Associativas” e checar se há cobranças estranhas.
  3. Caso encontre algo, selecione “Contestar desconto”.

Para quem não tem familiaridade com celular ou computador, também dá para ligar na Central 135 ou ir presencialmente a uma agência do INSS. Ah, e depois de contestar, ainda é preciso comparecer a uma agência dos Correios para aderir à proposta de reembolso. Sim, seu pai ou sua avó tem que ficar perambulando pela cidade em busca do reembolso. 

Parece burocrático? É porque é. Mas os números mostram que, apesar da maratona, o processo está andando: mais de 4 milhões de pedidos de contestação já foram feitos. Desses, 1,6 milhão de beneficiários receberam cerca de R$1 bilhão somados em reembolsos.

E atenção: quem quiser contestar ainda tem até 14 de novembro de 2025. 

Fique de olho no seu extrato

Por isso, se você recebe o benefício, precisa estar sempre de olho. A primeira pergunta é: você já conferiu seu extrato hoje?

No aplicativo ou site Meu INSS, dá para verificar todos os descontos. E é aí que entram os sinais de alerta:

  • Descontos que você não reconhece.
  • Valor do benefício menor que o habitual.
  • Mensagens ou notificações confusas.

Encontrou algo estranho? Melhor contestar logo. Afinal, como diz o ditado: “o olho do dono é que engorda o gado” ou, no caso, garante que o benefício não saia pela janela.

O extrato do INSS (ou a folha de pagamento)

Se você recebe aposentadoria ou pensão, todo mês tem que ficar de olho no extrato do INSS. É lá que vão aparecer possíveis descontos de créditos consignados ou de  associações indevidas.  

O detalhe é que quem gerencia essa operação bilionária não é o aposentado. Desde 2010, o INSS faz leilões a cada cinco anos. A instituição financeira ou banco que dá o maior lance leva o direito de pagar os beneficiários. E foi aí que a confusão ganhou mais um capítulo.

A vez (e a queda) da Crefisa

Em outubro de 2024, no último leilão, a Crefisa arrematou 25 dos 26 lotes de pagamento do INSS. Traduzindo: quase todos os novos aposentados do Brasil precisariam receber seus benefícios pela financeira.

Mas a Crefisa não é um “bancão” tradicional, cheio de agências, caixas eletrônicos e atendimento estruturado. É uma instituição conhecida justamente por atuar no mercado de empréstimos. E aí começaram as dores de cabeça:

  • Reclamações de dificuldade para sacar o benefício integral.
  • Pressão para contratar serviços não solicitados.
  • Venda casada de produtos e empréstimos.
  • Atendimento precário.

Não demorou para Procons, OAB e até a ouvidoria do INSS serem acionados. Resultado: contrato cancelado. Hoje, quem assumiu a maioria dos lotes foi o Banco Mercantil, que ficou com 21 dos 25 que eram da Crefisa, isso significa que os novos pagamentos serão feitos por lá. Pra quem já abriu a conta na Crefisa para receber o dinheiro e quiser pular fora, pode pedir portabilidade para outro banco de sua preferência (também através do site ou aplicativo).

Crédito consignado: a contratação que você nem sabe 

Além dos bilhões fraudados com descontos indevidos aos segurados e dos prejuízos impostos pela Crefisa aos pensionistas do INSS, o crédito consignado também entrou na berlinda.

Esse tipo de empréstimo funciona assim: aposentados e pensionistas do INSS pegam dinheiro emprestado e pagam as parcelas direto no benefício, antes mesmo de o valor cair na conta. Prático? Sim. Arriscado? Também.

O problema é que, junto da facilidade, vieram as ofertas excessivas. Os aposentados estão cansados de receber ligações a qualquer hora, promessas de crédito rápido e propostas milagrosas. Quem nunca atendeu o telefone e ouviu: “É a sua chance de colocar dinheiro no bolso hoje mesmo, sem burocracia!”? Pois é.

Para tentar frear esse assédio, o INSS proibiu recentemente que 8 instituições financeiras oferecessem crédito consignado. O motivo? Elas não tinham implantado o “não perturbe”, ferramenta que bloqueia ligações indesejadas. Pode parecer detalhe, mas faz diferença. Afinal, quando o telefone toca sem parar oferecendo empréstimo, até o mais desconfiado pode acabar caindo em uma cilada.

Conclusão: novela sem fim do INSS, mas com capítulos melhores

O escândalo do INSS mostrou que, quando o assunto é dinheiro público e benefícios previdenciários, nunca faltam enredos dignos de novela. Fraude bilionária, monopólio da Crefisa, troca para o Mercantil, crédito consignado na mira… parece até roteiro pronto para série de streaming.

Mas por trás do humor e da confusão, está a realidade: milhões de aposentados e pensionistas que dependem desse dinheiro para sobreviver. Cada desconto indevido, cada burocracia a mais, cada ligação oferecendo empréstimo afeta diretamente o bolso e a vida dessas pessoas.

A boa notícia é que parte dos problemas já começa a ser resolvida, com reembolsos pagos e medidas para conter abusos. A má notícia? Ainda não dá pra confiar que o INSS vai ser o xerife do seu benefício, que vai cuidar da sua conta e proteger a sua aposentadoria ou pensão contra os abutres que continuam tentando roubar o pobre coitado do brasileiro.

💭 Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima