Tenho uma amiga que sempre empresta dinheiro pros amigos dela, tipo agiota oficial do grupo. Ela vive reclamando que o pessoal não paga no prazo e às vezes até some. Eu digo e repito: para de emprestar! Mas no fundo eu sei que falar “não” para esse tipo de pedido é bem difícil.
Todo grupo de amigos é assim: tem aquele que está mais bem de vida, sempre presente nos eventos e é o mais gente boa. Mas no fundo, ele está sofrendo com os pagamentos não realizados, enquanto os outros, continuam se divertindo como se não tivessem devendo o cara que está do lado.
O lado B da amizade e do dinheiro
Falar de dinheiro sempre foi complicado, com a família, com o companheiro e com os amigos mais ainda. Mas nós brasileiros temos essa tendência de querer ajudar quem a gente ama, mesmo quando quem precisa de ajuda é a gente.
Ajudar o amigo é sim um gesto bonito, mas é preciso ter em mente que essa ajuda vem também junto com muitas outras questões emocionais. Expectativas, confiança, justiça e orgulho são ingredientes importantes numa amizade e tudo isso pode ser abalado por um Pix não pago.
As vezes o “agiota” não tem Pix…
Falar não para um empréstimo de dinheiro é até mais fácil quando você não tem aquele valor. Mas e quando o pedido é no cartão de crédito ou na hora do aluguel? É muito comum ver pessoas recorrendo ao amigo que tem mais limite no cartão para realizar alguma compra parcelada. E aí você que emprestou, assumiu uma dívida que não é sua.
Pode acontecer também de você ter que emprestar seu nome como fiador do apartamento do seu amigo. Nessas horas, a confiança vem com tudo. Os contratos normalmente são longos e você precisa acreditar que seu amigo vai pagar o aluguel em dia, se não, quem vai ficar com o nome sujo é você também.
Quando tudo começa a dar errado
Emprestar dinheiro para um amigo parece simples: alguém pede, você ajuda, a pessoa paga e segue tudo bem. Mas na prática… quase nunca é assim. A chance de dar ruim é alta e os conflitos costumam vir em silêncio.
O “me paga depois” vira uma angústia sem fim, principalmente se você não combinou exatamente quando é o famoso “depois”. E aí vem uma sequência de erros que só desgastam a relação.
Os atrasos, a falta de aviso e os sumiços estratégicos são bem comuns. Uma pesquisa do Instituto MindMiners mostrou que sete em cada dez brasileiros não devolvem dinheiro emprestado por amigo dentro do prazo combinado.
A gente sabe que imprevistos acontecem, uma emergência financeira pode surgir e atrapalhar o planejamento do devedor, mas o problema é quando a pessoa não avisa, não explica, e simplesmente some. E uma outra parte importante na equação surge: a vergonha de cobrar.
O medo de virar o agiota do rolê
O mesmo estudo revelou que a maioria dos entrevistados sente dificuldade em cobrar a dívida, por medo de constranger o amigo. E você pode até ter ouvido a frase “quem tem que ter vergonha é quem está devendo”, mas falar é fácil.
Na prática, a gente morre de medo de parecer mesquinho, arrogante e até ofender o amigo na cobrança. O resultado: a dívida se estende por meses, ou a gente até deixa pra lá e ela se torna permanente. Mas é aquele ditado, a gente perdoa mas não esquece.
E se for você quem está pedindo dinheiro ao amigo?
Vamos olhar o outro lado da moeda, afinal, nem sempre a gente está do lado de quem empresta. Às vezes, o aperto vem pra você, o cartão estoura, a grana acaba antes do mês e, no desespero, surge a ideia de pedir dinheiro emprestado para o amigo.
E isso não é nenhum erro, muito menos crime. A questão aqui é que, nessas horas, é necessário ter cuidado, respeito e responsabilidade. Por isso, alguns pontos importantes a se atentar são:
- Seja claro e direto: explique por que está pedindo, quanto precisa, como pretende pagar e em quanto tempo.
- Não se ofenda com um “não”: as pessoas têm todo o dinheiro de recusar te emprestar algo que é delas, por direito e, na maioria das vezes, foi muito difícil conseguir.
- Cumpra o combinado à risca: se você disse que ia pagar dia X, pague no dia X. Ou no máximo, avise se for ocorrer algum atraso. O silêncio é a chave para o desastre.
- Não transforme um favor em hábito: se pedir ajuda vira padrão, a relação começa a se desequilibrar. Seu amigo pode ser um apoio emergencial, não um banco pessoal.
Como emprestar sem virar um agiota emocional
Se você está do lado que quer ajudar e emprestar dinheiro para o amigo, antes de tudo, garanta que você pode abrir mão desse dinheiro se ele não voltar. E saiba que, se não houver cuidado, o que era um gesto de generosidade pode virar uma fonte de estresse, mágoa e até ressentimento.
É assim que nasce o agiota emocional: aquele que empresta esperando reconhecimento, gratidão eterna e o pagamento certinho e, quando nada disso acontece, passa a cobrar com indiretas, ressentimentos ou piadas atravessadas.
A boa notícia? Dá, sim, pra emprestar sem se perder na emoção. Basta estabelecer limites claros e formalizar a transação. Pode ser uma mensagem por Whatsapp combinando valores, prazo e forma de pagamento. Se for muito dinheiro, faça um contrato. E nunca se esqueça, em algum momento você vai ter que cobrar. Está preparado para isso?
Conclusão: empréstimo entre amigos pode rolar sim, mas com cautela
Às vezes uma ajuda amiga pode ser a salvação de um mês apertado. Mas a grande verdade é que empréstimo entre amigos exige responsabilidade e cuidados dos dois lados.
Se você é o amigo que empresta, antes de tudo se pergunte: posso abrir mão desse dinheiro? Além disso, estabeleça de forma clara e direta os prazos, não tenha vergonha de cobrar o que é seu e saiba falar “não”, ele é a sua ferramenta mais poderosa na hora de organizar suas finanças pessoais.
Se você é quem está pedindo o dinheiro, deixe claro o quanto você precisa, como e quando pretende pagar. Se planeje para devolver o dinheiro dentro do prazo e tenha maturidade para ter conversas difíceis e ser cobrado. Afinal, sua amizade vale muito mais do que um Pix ou uma compra no cartão de crédito.