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O dilema dos pais

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“Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser quando você crescer”
(Renato Russo, “Pais e filhos”)

 

Dediquei o mês de junho a refletir sobre a educação de crianças e jovens para o consumo. Comecei falando sobre frases que indicam que eles podem estar desenvolvendo maus hábitos de consumo, depois trouxe questões a que os pais devem ficar atentos, e na semana passada falei sobre o papel e o dilema da escola na educação financeira. Hoje trago os pais de volta ao centro da reflexão.

Educar filhos não é fácil. O mundo está cada vez mais violento e insalubre e as relações humanas andam desgastadas. No nosso assunto específico, educação financeira, um fator que dificulta o papel dos pais é o velho inimigo que venho apontando aqui: o consumismo.

As pessoas, de modo geral, e as mais jovens especialmente, vêm sendo bombardeadas por ações de marketing de todo tipo. Das que as induzem a comprar os mais diversos tipos de produtos e serviços às que ditam normas de comportamento e conduta.

O recado do mercado é bastante claro. É como se ele dissesse: “nós apenas apresentamos produtos, não obrigamos ninguém a comprar; se os pais não querem que os filhos consumam, basta dizer ‘não’, e ponto final. Eles precisam dar conta”. Ocorre que não é tão simples assim. Os pais têm dificuldade para impedir que a onda consumista atinja seus filhos. Se eles dizem o difícil ‘não’, sempre haverá amigos dos filhos cujos pais dizem ‘sim’. E aí, pronto. Os filhos se sentem deslocados, excluídos e, não raro, pouco amados.

Esse é um ponto importante. Os pais não vêm tendo tempo para muita coisa além de cumprir obrigações. E, muitas vezes, procuram compensar a falta de tempo proporcionando consumo. Se negam o consumo, é como se negassem o amor. É claro que as coisas não são assim, mas muitas pessoas agem como se fossem assim.

Some-se a isso o fato de que muitos pais são, eles próprios, grandes consumistas. Estes estimulam o consumo nos filhos não para compensar falta de tempo, mas porque acham que consumir é sempre bom, bacana, prazeroso. Então estão o tempo todo trocando de carro, de celular, de namorada, de lavadora de roupas, de religião, de amigos, enfim, de todos esses produtos tratados cada vez mais como descartáveis.

Vou trazer de volta ao assunto um agente importante: a escola. Pais têm delegado à escola a tarefa de educar integralmente seus filhos. Não percebem que o papel da escola é de protagonista no ensino e na instrução dos filhos, e de complementar na educação. Então a escola é obrigada, muitas vezes, a tentar educar os pais. De que adianta transmitir valores e hábitos responsáveis aos filhos se, em casa, os pais dão exemplos opostos?

Resumindo, a situação está meio infernal, parece não haver para onde correr. O movimento contrário a isso é recente e, ainda, um tanto tímido. Aos poucos vemos, aqui e ali, textos e falas mais críticos a esse estado de coisas. No dia a dia, cada um de nós pode ficar atento aos próprios hábitos. É mais fácil e cômodo acreditarmos que “o inferno são os outros”, como disse Sartre. Mas que tipo de companhia você tem procurado para seus filhos? E que tipo de exemplo você tem sido para eles? Pense nisso. E, se for o caso, modifique-se. Dá trabalho, mas vale a pena.

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