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A escola e a educação para o consumo

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“I can see you in the morning when you go to school 
Don’t forget your books, you know you’ve got to learn the golden rule.”
(Supertramp, “School”)


Nas duas colunas passadas (esta e esta), falei sobre a educação financeira de crianças e jovens. Hoje permaneço no assunto, trazendo para a conversa um agente importante: a escola.

A evolução tecnológica tem provocado mudanças muito rápidas na sociedade. As escolas não têm tido tempo de interpretá-las e de se adaptar a elas. Não me refiro apenas a crianças com smartphones em sala de aula, mas, principalmente, de crianças crescendo em um mundo mais competitivo, com mais opções de consumo e com expectativa de vida cada vez maior. Como lidar com elas? Além de não terem uma base teórica segura sobre como agir, as escolas – mais especificamente as particulares – enfrentam outra fonte de pressão: o mercado.

Na semana passada, falamos sobre os efeitos do consumismo e da superexposição ao marketing no comportamento das crianças e jovens, tanto individualmente como coletivamente. Muitas escolas têm replicado esses efeitos em sala de aula, por desatenção ou por pressão do mercado. Vamos a dois exemplos.

Imagine a situação de uma mãe que precise comprar seis cadernos de 200 folhas para suas filhas. Em uma rápida pesquisa na internet, ela encontra um modelo que traz na capa uma bela foto de uma paisagem, por menos de R$ 5. E outro, que traz na capa uma imagem do desenho animado Monster High, por R$ 40. Começa, então, o trabalho de convencimento das filhas. Afinal, por que gastar R$ 240 com cadernos, se ela pode gastar apenas R$ 30? Mas a tarefa não é fácil, as filhas querem o da Monster High. A mãe insiste, explica, elogia o outro modelo. Ao final, com muito custo, as filhas aceitam.

No primeiro dia de aula, uma coleguinha tira da mochila seu caderno e a professora elogia: “Fulana, mas que lindo o seu caderno da Monster High!”. Não é difícil imaginar a decepção da menina do caderno com a paisagem…

Em princípio, é injusto condenar a professora. Possivelmente, ela é apenas mais uma pessoa distraída, afundada no oceano de consumismo. Na intenção de agradar a uma aluna, acaba reforçando uma ação de marketing. Cabe à escola e aos pensadores e debatedores da educação – inclusive nós, do blog – identificar, discutir e difundir essa reflexão.

O segundo exemplo foi ouvido em uma praça de alimentação de shopping center. Dois alunos do ensino médio conversavam. Um deles dizia que, no ano que vem, fará uma viagem ao Canadá com os alunos da sua série, organizada pelo colégio, em parceria com uma agência de turismo. O outro retrucou, dizendo que o colégio dele também passaria a organizar uma viagem internacional. Ao que o primeiro, triunfante, encerrou a conversa: “Ah, mas a sua não vai ser com a X Tur” – o nome é fictício, mas a história é real.

Pelo visto, virou moda colégios de elite organizarem viagens internacionais, a ponto de a agência de turismo tornar-se uma grife. Não posso afirmar, mas me parece que a preocupação dos colégios é menos acadêmica do que mercadológica. A moda é essa, quem não segue perde espaço no mercado.

As escolas precisam assumir um papel crítico, e não multiplicador desse estado de coisas. É preciso trazer para o ambiente acadêmico a reflexão sobre consumo e consumismo, necessidade e desejo, poupança, educação financeira etc. E levá-lo para a sala de aula, sob a forma de conteúdo adequado a cada perfil de aluno.

Isto, aliás, já tem sido feito, aos poucos. Algumas escolas estão implantando iniciativas de educação financeira, adotando livros, inserindo o assunto dentro de disciplinas já existentes no currículo.

Na próxima semana, quero continuar falando sobre a escola, trazendo para a conversa outros importantes agentes: os pais.

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