Se você tem até 35 anos, você pertence à geração Y, ao grupo de pessoas nascidas após 1980. Com até 20 e poucos anos, você é da geração Z, geração que sucede a geração Y, nascida após os anos 1990. São categorias criadas pela sociologia para o tratamento coletivo dos indivíduos da mesma geração. É claro que a ideia não é rotular as pessoas, havendo inúmeras exceções aos padrões comportamentais. Mas, ao mesmo tempo, muitas pesquisas demonstram traços comportamentais similares entre as gerações Y e Z e divergentes das gerações anteriores, as gerações X e os baby boomers, os nascidos dos anos 1950 aos anos 1970. E os elementos comportamentais são muito significativos em matéria de finanças. Daí o nosso interesse pelo tema.
Antes de qualquer coisa, as novas gerações são conhecidas como as gerações do milênio (Millennials) ou da internet. Cresceram já em um mundo altamente tecnológico, são estimulados por inovação e vivem realizando tarefas múltiplas. Superexpostos a informação, caracterizam um público consumidor exigente. São essencialmente urbanos, representando em 2012 cerca de 20% da população mundial. Em um mundo ainda muito desigual, mas com maior prosperidade econômica, tendem a alcançar seus objetivos com menos esforço, além de contar fortemente com o apoio dos familiares. São ambiciosos e se sujeitam pouco a tarefas menores. São, geralmente, avessos a estruturas hierárquicas. Querem crescer rápido, já com salários maiores, buscando atividades que proporcionam desafios profissionais. Mas, ao mesmo tempo, não se esforçam para ultrapassar dificuldades típicas de início de carreira.
Como este contexto descrito acima se reflete na vida financeira? Inúmeras pesquisas têm sido realizadas, como a Millennial Money Mindset Report, elaborada pela consultoria on-line IQuantifi, uma vez que essa geração personifica a próxima onda gigantesca de clientes financeiros.
Há muitos dados interessantes. As pesquisas detectam que essa geração mistura doses de pragmatismo e otimismo, e algumas contradições. Por exemplo, parte significativa da geração acha que não terá acesso às redes de segurança social e previdência que seus pais têm. Mas eles confiam na sua própria capacidade de melhorar seu futuro financeiro. Antes de economizar, pensam simplesmente em como ganhar mais dinheiro (57% citam este como o principal desafio). Mais de 70% se sentem seguros de que alcançarão seus objetivos financeiros (dados da pesquisa da Harris Poll para a Northwestern Mutual). Mas o otimismo não vem sem uma dose de realidade. As dificuldades dos pais assustam a geração Y e eles são, geralmente, avessos a riscos.
Mas, agora, algumas contradições: ainda que mais da metade dos jovens da geração Y digam que possuem metas financeiras – contra 38% daqueles com mais de 35 anos –, os objetivos não estão apoiados em planos concretos. Um número expressivo dos entrevistados na pesquisa da Millennial simplesmente diz que “não tem ideia por onde começar e como colocar as finanças em ordem”.
E aqui o mais significativo: a geração Y não procura ajuda profissional, buscando aconselhamento financeiro principalmente entre amigos e familiares. A pesquisa da IQuantifi evidencia que os jovens recorrem mais a membros da família (79%) ou amigos (45%). Só 29% procuram alguma consultoria especializada.
As metas de poupança da geração Y demonstram este tênue equilíbrio entre consumo imediato e planejamento de médio e longo prazo. Embora aumentar a poupança geral seja o principal objetivo citado (76%), os demais itens são economizar para as férias (68%) e a compra do carro (66%). Somente o último item, entre os prioritários, é economizar para a aposentadoria (64%). Parece que o consumo imediato aqui faz pouco caso da dose de pragmatismo citada acima.
E o ápice da contradição aparece aqui: um estudo feito pelo Bank of America, em novembro de 2014, revela que mais de um terço dos adultos da geração Y recebe ajuda financeira regular dos pais e um em cada cinco ainda vive com eles sem pagar aluguel ou despesas. Há vários relatos, em sugestiva análise do Valor Econômico, que justificam a chamada da reportagem: “filhos que arruínam aposentadoria dos pais”.
Parece que a combinação do arranjo comportamental descrito no começo do texto, além da falta de apoio especializado, com uma pitada de autoconfiança no sucesso financeiro, não tem dado certo. Não seria o caso de procurar uma ajuda especializada? Tenho certeza que seus pais agradeceriam. É isso!