“A sua justificativa é o ensino escolar.
Não aprendeu a dividir, só quer multiplicar.”
(O Rappa, Dívida)
Na semana passada publiquei a coluna “Como sair do endividamento excessivo?” Por coincidência, o Banco Central publicou, no mesmo dia, o relatório preliminar de uma pesquisa qualitativa que procurou entender os caminhos que levam as pessoas a essa situação. A pesquisa foi feita por meio de oito entrevistas com grupos de oito a dez pessoas especialmente selecionadas – consumidores com restrições cadastrais ou excessivamente endividados. Os autores esclarecem que, da forma como foi composta a amostra, os resultados não podem ser generalizados para o universo de consumidores. Mas, certamente, nos permitem reflexões interessantes.
Eis os principais motivos que levaram as pessoas a entrar no atoleiro: fatos inesperados, falta de planejamento financeiro e empréstimo do nome. É difícil falar sobre fatos inesperados sem cair na especulação; as situações são muito particulares e variadas – perda de emprego, doença na família, gravidez não programada, separação. Posso dar duas sugestões para as pessoas refletirem, dentro de suas possibilidades: procure ter uma poupança para emergências; e pense cuidadosamente sobre ter seguros.
Já a falta de planejamento, bem, esta é uma das principais inimigas contra quem estamos batalhando aqui no blog. Consumo por impulso, excesso de compras parceladas, desconhecimento da própria situação financeira, uso irresponsável do crédito, tudo isso pode e deve ser evitado. A solução para isso passa invariavelmente pela santíssima trindade da educação financeira.
Por fim, o empréstimo do nome, que foi tema de coluna aqui no blog esta semana. A pessoa toma empréstimo para repassar a um amigo ou parente, ou aceita ser fiadora, ou empresta o cartão de crédito… E aí, quando se dá conta, está afundada em dívidas por culpa dos outros, ou melhor, culpa dela própria também.
Outra informação interessante da pesquisa é que muitos dos entrevistados assumiram serem os principais responsáveis pela sua situação de endividamento excessivo, mas alegaram que as instituições financeiras usam armadilhas que as induziram a usar inadequadamente o crédito.
Uma dessas armadilhas é a oferta ostensiva de linhas de crédito. Isso pode ser facilmente percebido no nosso dia a dia. Os dois bancos de que sou cliente costumam divulgar em seus caixas eletrônicos diversas linhas de crédito, antes de realmente iniciar o atendimento. Já cheguei a, apressado, apertar a opção “Quero contratar”, e caí numa página ainda mais sedutora, que me mostrava como era fácil e maravilhoso contratar o crédito e conquistar tudo aquilo que eu mereço… Aham… Sei…
Além disso, nos extratos, o “saldo disponível” costuma trazer, embutido, o limite de crédito, induzindo os clientes mais distraídos a pensarem que têm mais dinheiro do que realmente têm e, assim, a entrarem no cheque especial sem perceberem, pagando juros altíssimos.
Outra armadilha citada na pesquisa está nas faturas de cartão de crédito, no famoso “pagamento mínimo”. É comum a pessoa confundir o valor a ser pago, quitar apenas o mínimo e, sem perceber, rolar uma dívida a juros também altíssimos. E acontece também – mais comum, possivelmente – de a pessoa deixar-se seduzir pelo valor mínimo e, com as próprias pernas, entrar no parcelamento.
Em nosso programa desta semana na rádio Inconfidência, também falamos sobre o tema. Confira!