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A precaução pode custar caro

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“Viver é negócio muito perigoso”
(Guimarães Rosa)

 

 

O medo é um instinto. Nos animais, tem a função de preservar a vida. Da mosca que foge de nós na cozinha à zebra que foge do leão na savana, os animais têm um senso de preservação baseado no medo. Nos seres humanos, principalmente no homem moderno, o medo ganha dimensões muito mais interessantes. Uma dessas dimensões é a percepção de risco.

No mundo dos negócios existe um mercado riquíssimo que se alimenta basicamente da percepção de risco: o de seguros. Um seguro é, basicamente, uma aposta que a pessoa faz com uma empresa. A pessoa aposta no seu próprio azar. Por exemplo: eu compro um carro. Ao contratar um seguro, é como se eu falasse com a seguradora: “Eu aposto que vou bater esse carro”. E ela diz: “Eu aposto que não vai”. Então, eu dou um dinheiro a ela. Se eu ganhar a aposta – isto é, se bater o carro – ela paga a maior parte do conserto. Se eu não bater, ela embolsa meu dinheiro. E eu, claro, fico feliz, porque bater carro é sempre ruim.

Ter seguro, em princípio, é bom. Seguro de carro e plano de saúde eu considero essenciais. Outras modalidades de seguros e coberturas eu já acho que devem ser analisadas caso a caso.

No seguro de carro, por exemplo, há a modalidade “franquia reduzida”. A pessoa paga um pouco mais pela contratação do seguro, mas paga menos caso precise acioná-lo. Eu costumava contratar essa modalidade. Depois de passar alguns anos sem acionar o seguro, parei; é uma aposta na minha sorte, e tem dado certo.

Outro exemplo: quando compramos uma TV, o fabricante oferece a “garantia estendida”. Em vez da garantia normal de 1 ano, o aparelho estará protegido por 3 anos.  Eu nunca contratei. Penso que, se um aparelho vai dar defeito, provavelmente será antes de completar 1 ano de uso, ou depois de completar uns 5. Tem dado certo.

Quero lembrar ao leitor que palpite não foi feito pra gente seguir, e sim pra gente pensar. Estou contando o que funcionou para mim, mas cada um sabe de si.

Agora, uma situação real. Tenho um amigo que comprou um apartamento recentemente, financiado pela Caixa. Ele tinha uma poupança de R$ 240 mil e pagava um aluguel de R$ 1.500 – que seria o valor que ele teria disponível para pagar as prestações. Na hora de contratar, porém, ele optou por dar apenas R$ 200 mil de entrada e preferiu uma prestação de R$ 1.200. Com isso, precisou financiar em 30 anos, pagando mais juros – se tivesse zerado a poupança e encarado uma prestação maior, poderia contratar em prazo menor.

–Cara, por que você fez isso? – perguntei
–Ah, vai que aconteça alguma coisa e eu precise de dinheiro…
–Aconteça O QUE, exatamente? Você tem emprego estável, seguros, plano de saúde…
–Ah, sei lá, a gente nunca sabe.

Não entendi, mas não falei mais nada. Cada um sabe de si.

O meu convite é para que procuremos dosar nossa percepção de risco. Que pensemos no custo da precaução, nas chances reais de algo dar errado, nas opções que temos caso dê. É possível prever isso tudo com exatidão? Claro que não. Mas é algo para se pensar.

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