O podcast de hoje foi gravado no dia 14 de junho de 2018, exatamente o dia da abertura da Copa do Mundo. Não perdemos a chance de fazer um paralelo entre finanças e futebol. Não se trata de analisar as finanças DO mundo do futebol. Isso não seria lá muito divertido e teria pouca utilidade prática para o leitor. Em vez disso, fizemos uma comparação entre algumas histórias do mundo do futebol e o comportamento financeiro das pessoas. Que lições podemos aprender?
A riqueza do futebol
Futebol é um esporte muito rico. E, mais uma vez, não estou falando sobre as cifras do mundo da bola. Vou muito além disso.
Em primeiro lugar, o futebol é rico como prática esportiva propriamente dita. É uma atividade física bastante intensa, é divertido de se jogar, bonito de se ver e complexo sob o ponto de vista tático. É democrático, pois não requer muito espaço, nem equipamentos caros. Para se jogar futebol bastam alguns metros quadrados de chão e uma bola – às vezes, nem isso: já vi garrafa pet amassada fazer papel de bola em festa infantil.
Mas, além disso, o futebol é muito rico sob os pontos de vista psicológico, sociológico e histórico. Autoestima, autocontrole, liderança, trabalho em equipe, ética, são apenas alguns dos exemplos de traços psicológicos evidenciados pela prática do futebol – tanto o dos grandes clubes como o das peladas de fim de semana. As ações e reações das torcidas, a representação de um povo por um time, o clima nas ruas quando há algum evento futebolístico importante, são exemplos do lado sociológico do esporte. E a interrupção de uma guerra na África, em 1969, para que o povo pudesse ver o Santos de Pelé jogar é apenas um exemplo de como o futebol faz história não apenas no mundo esportivo.
Com tantas conexões possíveis, não é difícil fazer um paralelo dessa paixão nacional com as finanças pessoais.
Finanças e futebol
Treinamento, disciplina, visão global, estratégia e ousadia são algumas das características que podem determinar o sucesso, tanto no futebol quanto nas finanças pessoais. Não é difícil elencarmos uma série de situações na história do futebol em que esses fatores tenham feito a diferença – e trazê-los para o mundo das finanças.
A persistência pode gerar bons resultados
A pessoa tem uma ideia, planeja e coloca em prática, convicta de que aquilo dará certo. Porém, quando vêm os primeiros resultados, eles são negativos. Mas a convicção da pessoa não se abala. E vêm mais resultados. Negativos de novo. E agora? É hora de assumir que o plano deu errado, apagar tudo e começar do zero? Ou compensa insistir mais um pouco?
Isso acontece, por exemplo, em relação a investimentos de risco. O investidor compra uma ação, ou aplica em um fundo de renda variável, naturalmente acreditando em seu sucesso. Porém, o que ele vê são seguidas desvalorizações. E agora? Como saber se é hora de desistir ou insistir?
Basicamente, é preciso avaliar o que o levou a investir naquilo. Houve estudo, estratégia, foco nos fundamentos? Se houve, faz sentido pensar em insistir. Mas se a decisão foi baseada em modismo, entusiasmo e foco apenas no passado, talvez seja o caso de assumir a falha e partir para outra.
E no futebol? Me lembro de pelo menos duas situações em que a persistência deu bons resultados.
Corinthians de 2011
Em 2011, o Corinthians começou o ano disputando a pré-Libertadores. Ronaldo Fenômeno era a grande estrela da equipe. Porém, as coisas não saíram como o planejado. O time foi eliminado da competição pelo inexpressivo Tolima. Imprensa e torcida adversária ridicularizaram o grupo. Parte da torcida corinthiana exigia a saída do técnico Tite. A diretoria, porém, decidiu mantê-lo.
Resultado: o time foi campeão brasileiro naquele ano e campeão da Libertadores e do Mundial no ano seguinte.
Cafu
Marcos Evangelista de Morais, o lateral direito Cafu, tinha o sonho de se tornar jogador de futebol. Durante a infância e a adolescência, participou de vários treinos de seleção – as chamadas “peneiras”. Foi eliminado nada menos que oito vezes. Mas não desistiu. Na nona tentativa, foi aceito pelo São Paulo Futebol Clube. Tornou-se campeão brasileiro, sul-americano e mundial pelo clube. Como se não bastasse, foi duas vezes campeão mundial pela Seleção Brasileira, tendo sido o único jogador da história a participar de três finais de Copas do Mundo.
Não adianta ter os melhores ativos se não houver disciplina
Bom salário, tempo disponível, acesso aos melhores produtos e serviços financeiros. Quando alguém tem tudo isso é impossível ter problemas com dinheiro, certo? Errado. Se não houver disciplina, tudo pode ir por água abaixo. A pessoa gasta mais do que pode, perde prazos de pagamento, se esquece de resgatar aplicações no dia certo e entra no cheque especial, investe da forma errada…
Finanças e futebol se encontram nisso também. São inúmeros os casos de elencos brilhantes que naufragaram por pura falta de disciplina.
Seleção Brasileira de 2006
Você se lembra do elenco da Seleção Brasileira na Copa de 2006, na Alemanha? Kaká, Adriano Imperador, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho. Dida no gol, Cafu e Roberto Carlos nas laterais. Parecia impossível dar errado.
Mas você se lembra da preparação da Seleção para aquela Copa? Treinamentos com arquibancadas lotadas, torcedores em festa, alguns invadindo o campo para abraçar os craques. Carlos Alberto Parreira vaidoso, com livro recém lançado – “Formando equipes vencedoras”… Jogadores dando entrevistas à vontade. Esposas e familiares dentro do campo de treinamento. Na época nós não percebíamos, mas, olhando de hoje, era impossível aquilo dar certo.
Não adianta ter os melhores ativos – jogadores, informação, tecnologia – se não houver disciplina.
Fazer o básico e trabalhar muito
Estudo, seriedade, coesão, atenção a todos os detalhes, foco no objetivo. Receita quase infalível para obter a máxima eficiência em finanças. Não importa quantos e quais ativos você tem. Você pode até não ter muito dinheiro. Se colocar em prática todas essas virtudes, você vai obter o melhor resultado possível.
No futebol isso funciona também.
São Paulo FC de 2006 a 2008
“Aqui é trabalho, meu filho”. Essa frase do treinador Muricy Ramalho ficou famosa e define o seu temperamento e seu método. O São Paulo foi campeão nacional três vezes consecutivas – o único clube a conseguir essa façanha em quase 50 anos de Campeonato Brasileiro.
Não era exatamente uma máquina de fazer gols. Marcou, em média, 1,6 por jogo, menos do que fizeram muitos dos times campeões nacionais. Por outro lado, levava poucos gols, apenas 0,8 por jogo. Não exibia um futebol magistral, mas eficiente. Não tinha grandes craques, mas jogadores dedicados e um grande líder dentro de campo, o goleiro Rogério Ceni.
Alguns jornalistas brincavam, dizendo que o São Paulo não jogava futebol, mas muricybol, isto é, uma variação do esporte criada pelo treinador Muricy. Ele nem ligava, seguia convicto, soberano.
Investimento de risco X Investimento conservador
Um investidor arrojado precisa de talento, criatividade, trabalho e, principalmente, ousadia. Com essas qualidades ele consegue atuar em vários setores ao mesmo tempo, combinar diferentes estratégias e obter os melhores resultados. Torna-se uma inspiração para seus pares.
Um investidor conservador precisa de dedicação e disciplina. Consegue atuar com eficiência, passo a passo, escolher uma boa estratégia e cumpri-la à risca. Aos poucos pode se permitir uma jogada mais arrojada. Pode até não encantar, mas merece admiração. Torna-se um exemplo.
Final da Copa da Alemanha 1974
A seleção holandesa encantou o mundo em 1974, com um futebol criativo e inovador. No estilo criado pelo treinador Rinus Michels os jogadores não guardavam posições fixas. Cruijff, Neeskens, Resenbrink e cia. conseguiam estar em todos os setores do campo. A equipe ganhou os apelidos de “Laranja mecânica” e “Carrossel holandês”, o que revela, ao mesmo tempo, extrema precisão, leveza e beleza. Corria riscos e parecia inevitavelmente fadada ao sucesso.
A seleção alemã, por outro lado, era a própria imagem da disciplina, eficiência e dedicação. O craque do time não era um goleador, mas um jogador responsável pela segurança do time. 4 anos antes, Beckenbauer ganhara a admiração do mundo ao permanecer em campo com o braço imobilizado em uma tipoia após deslocar o ombro, na semifinal de Copa. Em 1974, jogando em casa, foi o capitão que conduziu o time à grande final.
O resultado todos sabem. O título ficou com a Alemanha, a consagração pela história ficou com a Holanda. Vitória dos conservadores. Vitória dos arrojados. Vitória do futebol.
Poupar para o futuro
Quem acompanha o Educando Seu Bolso sabe da importância de se poupar para o futuro. Quem tem reservas financeiras passa por imprevistos de forma mais tranquila, com menos sofrimento, menos sustos. E quanto mais reservas acumular, mais cedo consegue se aposentar. Básico.
Corinthians de 2017
O Corinthians começou o ano de 2017 tendo como treinador Fábio Carille, ex-auxiliar do técnico Tite, que havia sido chamado para dirigir a Seleção Brasileira. Tite saiu em junho de 2016 e foi sido substituído por Cristóvão Borges, que não foi bem dirigindo o Timão. Carille assumiu sob desconfiança geral. O Corinthians chegou a ser chamado de “quarta força do futebol paulista”.
Pois bem. O time não apenas foi o campeão estadual daquele ano, como também fez uma campanha histórica no Campeonato Brasileiro. Na primeira metade do campeonato, teve 14 vitórias, 5 empates e nenhuma derrota. 47 pontos ao todo, um feito inédito. Com isso, deu-se ao luxo de fazer uma campanha apenas regular na segunda metade, e mesmo assim foi campeão sem maiores sustos, com algumas rodadas de antecedência. Aposentou-se cedo.
O barato e o caro
“O barato, às vezes, pode sair caro”. Esse dito popular vale para muitas coisas na vida, inclusive para as finanças pessoais. Quando nós, do Educando Seu Bolso, oferecemos consultorias aos nossos leitores e clientes, nosso foco não é simplesmente vender um serviço – não é esse o nosso jogo. Quando fazemos isso, sabemos que estamos propondo um jogo de ganha-ganha. Temos a convicção de que cada Real investido por nossos clientes pode transformar-se em uma economia de muitos Reais para eles próprios.
Também oferecemos muita informação útil e gratuita para nossos leitores. O ideal é que todos possam cuidar de suas finanças por si só. Em alguns casos, porém, informação qualificada e sob medida é fundamental para a obtenção de bons resultados. Consultoria não é despesa, é investimento.
O barato que sai barato
A Copa do Brasil já foi cenário de boas surpresas no futebol nacional. Ao longo dos quase 30 anos de história do torneio, vários clubes com orçamentos modestos protagonizaram páginas heroicas. Criciúma (1991), Juventude (1999), Santo André (2004) e Paulista (2005) foram campeões com times modestos, motivados e, principalmente, disciplinados. Além destes, Ceará, Ipatinga e Brasiliense, entre outros, também chegaram perto e fizeram história. É o barato que deu resultado.
O caro que sai caríssimo
Alto investimento nem sempre significa bons resultados. Quem não se lembra do Flamengo de 1995? “Pior ataque do mundo, pior ataque do mundo? Pare um pouquinho, descanse um pouquinho, Romário, Sávio e Edmundo”. Essa era a música alegremente cantada pelos adversários, uma paródia retirada de um antigo comercial de televisão. O ano do centenário do Mengão foi marcado por um time que a torcida prefere esquecer.
O caro que sai justo
Vanderlei Luxemburgo é um dos técnicos mais vencedores da história do Brasil. Uma das características de seus times é de serem elencos caros, mas que dão bons resultados. Palmeiras (1993 e 1994), Corinthians (1998) e Cruzeiro (2003) são alguns exemplos. No futebol, títulos geralmente significam boas premiações e polpudos contratos de patrocínio. É o caro que compensa.
O barato que sai caro
Aqui poderíamos citar vários exemplos. Quando não há investimento, geralmente não há bons resultados. Na maioria das vezes não se trata de opção dos clubes, e sim de pura e simples falta de dinheiro. E aí não é o caso de culpar ninguém, mas de lamentar que as coisas sejam assim. Futebol é um esporte caro. Quem tem mais dinheiro é que se credencia a concorrer aos títulos. É assim no mundo inteiro.
Concluindo
Bem, há alguns anos o Educando Seu Bolso vem falando que, ao contrário do futebol, finanças pessoais não precisam ser uma caixinha de surpresas. Com autoconhecimento, planejamento e disciplina é possível caminhar com bastante segurança e obter bons resultados.
Apesar disso – ou justamente por causa disso – o futebol pode ensinar boas lições sobre o que fazer e o que não fazer com nosso rico e suado dinheiro. Listei aqui apenas algumas delas. Se você se lembrar de mais alguma, deixe aqui nos nossos comentários. E não deixe de ouvir o podcast!
Parabéns pelo site gostei muito. 😉
Obrigado!