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A nova geração tween e a relação com o dinheiro

A tese de doutorado realizada pela pedagoga e economista Maria Aparecida Belintane Fermiano foi a fonte de pesquisa para o post de hoje. A investigação teve como objetivo buscar compreender o perfil das crianças e pré-adolescentes de hoje e categorizou as pessoas nessa faixa etária como os tweens: aqueles que têm conquistado maior autonomia no mundo do consumo e já possuem o seu próprio dinheiro (leia sobre a pesquisa mais abaixo). Esta nova geração que chega ao mundo do comércio consome e quer consumir mais a cada dia. A oferta de novidades e o acesso às tecnologias vivenciadas por nossas crianças são maiores nos dias de hoje, algo muito diferente da infância dos seus pais. São crianças que também já estão inseridas neste mundo econômico e já são tratadas como clientes pelo marketing sendo constantemente convidadas a gastar mais.

Fermiano considera que estes jovenzinhos, os tweens, precisam ser alfabetizados economicamente para desenvolverem uma resistência ao grande bombardeio de incentivo ao consumo e valores e modelos que vêm sendo transmitidos e impostos por meio dos veículos de comunicação.  Segundo a pesquisadora, o perfil dessas crianças e pré-adolescentes pode ser descrito da seguinte maneira:

  • Muito ativos;
  • Gostam de novidades;
  • Sabem muito bem o que desejam comprar;
  • Apreciam estar com os amigos;
  • Permanecem pouco tempo com família;
  • Entendem completamente a programação da televisão, distinguindo o que é comercial daquilo que é programa;
  • Ainda não conseguem distinguir as intenções das mensagens transmitidas pela mídia;
  • Estão sempre com algum dinheiro;
  • Não têm noção de valores, não conhecem como funciona o comércio ou o que é lucro;
  • Querem o produto na loja, porque lá podem pegá-lo e olhá-lo concretamente;
  • Não sabem comparar preços, qualidade e as ofertas das diferentes lojas.

Outro ponto abordado pela pesquisadora é a estrutura cognitiva dos tweens: eles ainda não dão conta das variáveis que fazem parte da economia e preferem dessa forma se deter ao que os amigos falam, sendo capazes de se adaptar rapidamente às solicitações do meio em que vivem. Muitas vezes não são estimulados a pesquisar preço pela família, mesmo porque nem sempre a própria família faz isso.

Essas crianças lidam com muitas informações ao mesmo tempo, assistem ao Discovery Channel e a uma série de programas, logo as pesquisas de marketing não perdem tempo e adentram as casas destas crianças para verem o que fazem no seu cotidiano e descobrir as suas preferências antes de lançarem seus produtos por meio de propagandas muito atraentes no intervalo destes programas.

É NECESSÁRIO ACOMPANHAR AS MUDANÇAS
Com tantas mudanças no mundo do comércio, o comportamento das crianças ao longo dos anos foi se alterando e este fato chama a atenção dos responsáveis pela educação. É necessário acompanhar tais mudanças, pois o mundo está constantemente em transformação. Mas, devemos mudar de forma inteligente e adaptar às novas realidades e tendências com equilíbrio.

Equilíbrio na formação do ser sem excluir, sem privar, mas a partir do pensar sobre o que se vive, para que se vive e por que se vive.  Aliamos a estas ações a de trabalhar valores e trabalhar questões de identidade. Listo aqui alguns aspectos fundamentais que podem ser abordados em diferentes momentos com o jovem:

  • Trabalhar a confiança e segurança em ser ele mesmo, sem preocupar com os demais.
  • Realizar um planejamento econômico (seja de poupar ou conhecer minimamente o mercado).
  • Comparar e conhecer os preços de um mesmo produto em diferentes estabelecimentos (incluir trabalho com marcas diferentes).
  • Oferecer mesada ou semanada para a criança ou pré-adolescente começar a gerir o próprio dinheiro, sendo orientada também pelos pais.

Como eles já estão inseridos neste mundo econômico, este trabalho com a confiança em si mesmo e com a construção de estratégias em suas compras são etapas interessantes que eles podem vivenciar todos os dias. A constância nestas ações ajuda muito a criança a se organizar, a ter noção do dinheiro, a perceber e questionar os programas e os comerciais e fazer o que ele realmente quer com liberdade, sem ser sugestionado por este ou aquele comercial, por este ou aquele amigo em um grupo de convivência.

A PESQUISA
Em sua tese, a pesquisadora entrevistou 423 pré-adolescentes de três escolas de municípios da Região Metropolitana de Campinas: Sumaré, Nova Odessa e Americana, sendo duas de ensino privado e uma pública. Os tweens, provindos das classes sociais A a E, responderam a um questionário com 93 perguntas. A pesquisadora constatou nas respostas obtidas uma clara relação das ações de marketing com o comportamento dos tweens e um investimento muito forte em pesquisas que objetivam conhecer muito bem seus clientes, na verdade crianças, mas que possuem um poder de compra alto. É feita uma abordagem ampla, revelando aspectos culturais, econômicos, sociais, educacionais e familiares. Na intenção de compreender essas crianças, a autora traça um perfil dos tweens caracterizando uma amostra que pode ser reaplicada em outras, verificando-se se existe ou não correspondência de dados. São raras as pesquisas sobre este tema no Brasil. Todas as perguntas foram consultadas em bases nacionais e internacionais. O intuito foi conhecer se as respostas coincidiam com as de outras crianças na mesma faixa etária. O critério de seleção foi aprovado pela direção das três escolas e dos pais.

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Bibliografia:
Fermiano, M. A. B. (2000). Nível cognitivo de alunos do curso de magistério. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas – São Paulo. 146p.
Fermiano, M. A. B. (2010). Pré-adolescentes (“tweens”) – desde a perspectiva da teoria piagetiana à da psicologia econômica. (Tese de doutorado). Campinas – São Paulo: [s.n.]. 386 p.

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