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Mesada para os filhos, eis a questão!

“Li o post de vocês sobre educação financeira na escola e estou pensando em como ajudar meus filhos, daí resolvi perguntar aqui: o que acham de eu dar a eles uma mesada?”
SILVANA – POR-EMAIL

Não se trata de uma pergunta fácil não, viu, Silvana? Mas vou tentar respondê-la, não na condição de pedagogo, mas como conhecedor das finanças e, principalmente, como pai.

Infelizmente, a resposta não é tão simples quanto muitos desejariam: “Dou mesada, tá tudo certo!” ou vice-versa… Acredito que podemos formar crianças que têm boa relação com o dinheiro com ou sem mesada, ou seja, ela pode ajudar, mas não é indispensável. Conheço, aliás, casos de adultos que nunca ganharam mesada enquanto crianças e que hoje têm ótima relação com o dinheiro. Ah, e há também aqueles que ganharam suas semanadas desde cedo e que hoje se atrapalham com as finanças.

O que quero dizer com isso? Que a mesada pode ser uma ferramenta, dentro de um conjunto de práticas e comportamentos, que os pais devem usar para ajudar a formar devidamente seus filhos. Para aqueles que querem adotá-la, sugiro que façam de forma que auxilie as crianças a entenderem que:

  1. O dinheiro não cai do céu, é o esforço que o produz. É importantíssimo, a meu ver, que a criança valorize o trabalho. Na prática, pode ser como aquela lavada no carro, que gera pra eles um troquinho. “Opa, se fizer um esforço a mais, ganho uma grana a mais”. Note bem, isto é diferente da premiação financeira pelo cumprimento de obrigações. Sou contra isto! Acho que certas coisas que a criança tem que aprender desde cedo que ela faz para si mesma e não para os pais. Um exemplo que vejo direto e com o qual não concordo é: “Pago tanto por um 10 na prova!”… Pode até surtir algum efeito no curto prazo, mas pensem na cultura que isto cria e no comportamento que incentiva. E no dia que não tiver ninguém pagando pelo 10? Ou pior, e no dia que ela tirar um 10 (no trabalho) e não necessariamente ganhar nada com isto?
  2. O dinheiro é finito. Em outras palavras, não adianta dar mesada se, quando ela acaba, os pais complementam ou dão as coisas por fora. Desta maneira, a criança não aprende sobre a limitação dos recursos.
  3. Algumas coisas também não caem do céu e custam dinheiro. Bom, acho que esta é a vantagem mais direta do bom uso da mesada. Quando eles gastam seu próprio dinheiro pra comprar algo que querem, aprendem isto na prática. Há, porém, outras maneiras de transmitir esta mesma mensagem. Neste sentido, considero o cartão de crédito um grande vilão, pois passa a imagem de pagamento sem esforço, sem custos e sem limites. Não acredita? Converse com seu filho sobre o cartão de crédito e verá que muitos deles o veem como um instrumento que resolve problemas financeiros em um passe de mágica. Bom, pensando bem, ainda tem muito adulto que pensa assim também, né?!
  4. Finalmente, devemos criar uma relação positiva com o dinheiro. Digo isto para aqueles pais que ficam negociando com a mesada: “Se você não fizer isto corto sua mesada”, “Ou você me obedece ou fica sem mesada”. Quando escuto isto, fico pensando: gente, quem manda nesta casa? São os pais ou é o dinheiro? Outra coisa é que, a meu ver, isto faz com que a criança crie uma relação negativa com o dinheiro, afinal ela está sendo chantageada o tempo todo por meio dele. Acho que é completamente diferente de ela, por exemplo, fazer pulseirinhas com elásticos coloridos para vender na escola e com isto ganhar uma graninha. Além, é claro, de se sentir bem, criativa, capaz, útil, valorizada etc…

 

Bom, acho que era isto. Pra responder sobre a mesada, acabei falando um bocado sobre paternidade, tema que não é nada simples e muito menos de consenso. Sendo assim, estou preparado para as críticas. Aliás, vai ser um prazer se elas vierem!

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