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Porque a casa própria não é investimento

O sonho da casa própria

Qual o grande sonho do brasileiro médio hoje, o objetivo de vida de muitos? A casa própria, concorda? O sonho de sair do aluguel… Mas, na maioria dos casos, continuar pagando condomínio, IPTU, etc… Não fosse verdade, o programa Minha Casa Minha Vida não teria tão enorme sucesso. Não vou discutir aqui o viés político do programa, apenas constatar o nível de adesão popular.

Do mesmo modo que, como disse dias atrás, o carro utilizado no dia a dia para lazer ou ir e voltar ao trabalho, ou ainda levar as crianças à escola, enfim, para essas atividades cotidianas, não é investimento, a casa própria também não é. Por quê? Pela mesma razão: a casa própria gera despesas, e não receitas. Verdade absoluta? Definitivamente não, mas vamos à ressalva: a possível valorização do imóvel acima do percentual inflacionário.

Exceto em momentos de boom imobiliário, como o que estamos vivendo (na opinião de alguns), ou que acabamos de viver (na opinião de outros), quando não temos alta significativa dos valores dos imóveis, os valores de alugueis (e IPTU) tendem a se manter comportados, sem saltos. Isto torna o aluguel mais atrativo que a compra da casa própria em termos meramente econômicos. O aluguel permite o uso do dinheiro (capital) para investimentos com melhor remuneração.

Tomando Belo Horizonte como exemplo

Vou dar exemplos da cidade em que moro, e que conheço melhor, mas que acredito não ser muito diferente do restante do país. No mercado imobiliário de Belo Horizonte, um apartamento de R$250.000,00 tem gerado receitas líquidas mensais (após descontar impostos, taxas, custos de corretagem, etc.) da ordem de 0,3% ao mês, bem abaixo da inflação ou do rendimento da caderneta de poupança. Se a valorização imobiliária gerada pelo boom que estamos vivendo cessar, o investimento torna-se extremamente desinteressante, valendo mais a pena alugar e não adquirir. Ainda no mercado belo horizontino, quanto menor o valor do imóvel, maior a rentabilidade líquida relativa, ou seja, um imóvel de R$100.000,00 tem aluguel relativamente maior do que um imóvel de R$1.000.000,00. Exemplificando, um imóvel de R$1.000.000,00 costuma render, líquido, em torno de R$2.500,00 mensais. Um imóvel de R$100.000,00 rende em torno de R$350,00. Dez imóveis de R$100.000,00 rendem, portanto, R$3.500,00 mensais.

Imóvel Receita mensal por imóvel Receita total mensal
1 imóvel 1.000.000,00                          2.500,00                  2.500,00
10 imóveis de 100.000,00 cada                             350,00                  3.500,00

Uma variável importante: a vacância

Lembrando que a vacância de um imóvel de R$100.000,00 representa perda de R$350,00, assegurando a rentabilidade de R$3.150,00/mês, enquanto a vacância do imóvel de R$1.000.000,00 representa a perda de toda a receita (além de arcar com custos de IPTU, condomínio, taxas, etc.). Isto também significa que se você possui o desejo de morar em um imóvel que custa R$1.000.000,00 e já possui o dinheiro, vale mais a pena comprar dez imóveis de R$100.000,00 do que apenas o seu, de R$1.000.000,00: sobram em torno de R$1.000,00 da “troca” dos alugueis.

Ainda sobre a vacância do imóvel. Ter mais imóveis menores tem o mesmo efeito prático da diversificação de investimentos. Por exemplo, se você tem 10 imóveis e um deles desaluga, você perde 10% da receita. Na verdade, a receita cai um pouco mais por causa das despesas, mas vamos simplificar. No caso ilustrado acima, se desalugar 1 imóvel sua receita cai para R$3.150,00. Ainda superior ao custo do seu aluguel…

Vou te dar uma válvula de escape

Entretanto, há um fator a ser considerado e que não é econômico, é emocional: o desejo de ter a casa própria, o desejo de poder falar “isto é meu, esta casa é minha!”. Pode parecer bobagem, mas fincar esta raiz é importante para muita gente. Talvez seja o seu caso. Se for, e tiver condições econômicas, vá em frente: dinheiro não é tudo nesta vida. Ser feliz vale muito mais.

Até a próxima.

(Publicado também, com ajustes, em http://vocemaisrico.com/2014/03/06/porque-casa-propria-nao-e-investimento/)

4 comentários

  • Olá,

    Nesta conta da casa própria, você levou em consideração os valores com mudança e o custo da entrega do imóvel? Se mudar a cada 3 anos, mesmo assim compensa? Eu não fiz a conta ainda, mas deixo aqui minha pergunta.

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    • Boa noite, Luiz. Muito boa sua pergunta. Isto também deve ser considerado nos custos, claro. Mas não se esqueça de diluir ao longo dos meses do contrato. Um bom exercício… Abraço.

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      • Obrigado pela resposta. Bom, estou ainda tentando entender como a casa própria não é investimento, mas como fiquei com anos perseguindo a tal casa própria, é um pouco difícil abandonar o conceito. Aproveito o espaço e vou contar o meu caso específico. Eu e minha família estamos morando de aluguel há 5 anos e num lugar perto do trabalho e da nossa escola da nossa filha. Neste tempo economizamos e juntamos 500 mil reais! Ano passado tiramos 200 mil reais e compramos um terreno. E mês passado pegamos um empréstimo de 490 mil reais na CEF com juros de 9% pra construir uma casa. No fim de 2014, vamos gastar um pouco da poupança pra colocar armários, comprar alguns móveis, etc, e também pra amortizar um pouco a dívida. Acredito que quando eu for fazer o imposto de renda em fevereiro de 2015 eu vou ter menos dinheiro na conta, vou ter uma casa com pouca liquidez e uma dívida. Teremos uma satisfação em ter a casa, mas pra nossas finanças não está sendo bom não.

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    • Luiz, em primeiro lugar, dinheiro não é tudo. Sua casa representa antes estabilidade emocional do que estabilidade financeira, da qual você poderá voltar a correr atrás com mais tranquilidade. Como já percebeu, sua casa não é um investimento, mas uma despesa, quando tratamos meramente através do prisma econômico. De qualquer forma, parabéns pela vitória: poucos são os que correm atrás de seus sonhos e os realizam. Abraço e obrigado por participar.

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